sexta-feira, abril 27

A não padronização paisagística da propriedade rural

Antônio Roberto Mendes Pereira 

Já há algumas décadas as paisagens do campo vêm mudando drasticamente, a diversidade de cores, de aromas, de formas e formatos, vem sendo retirada para dar lugar à paisagem quase que desértica da monocultura. Tudo vai abrindo e saindo para que a paisagem com pouca diferença de vida possa se instalar. A beleza da mistura é trocada pela pouca ou quase nenhuma beleza da monotonia de ser o único, a mesma coisa, a mesmice, a mesma forma, e o mesmo aroma. 




Todo este cenário que vai se instalando vai de encontro à complexidade da natureza, de sempre querer misturar juntando e colocando vida diversa no menor espaço possível e imaginário. É incrível como esta paisagem monolítica, provoca o mono em todos as áreas que compõe este espaço, tudo se torna mono, quem produz, a forma de produzir, utiliza-se os mesmos produtos, o produto para vender será o mesmo, o beneficiamento caminha na mesma direção, a remuneração das pessoas passam a ser a mesma, para quem deste espaço sobrevive, as pragas e doenças também são as mesmas, a maquinária também é a mesma, as dificuldades que aparecem também são as mesmas, enfim tudo caminha para a mesma coisa para tudo e para todos. 

Para o sistema capitalista esta é a forma correta e mais fácil para ganhar dinheiro. Não se tem que quebrar muito a cabeça para gerir muitas áreas com pouca diversidade. Os especialistas surgem com muita facilidade e os generalistas tendem a desaparecer. São ridicularizados, pois sabem pouco de muita coisa, enquanto o especialista sabe muito de quase nada, mas para aquele contexto ele se torna o rei do conhecer mais e mais da mesma coisa. Vai se afastando da paisagem do todo para o detalhe de um componente desse todo. 

Este texto pretende alertar e provocar uma nova forma de ver e de construir espaços onde a paisagem e o modo de viver voltem a gerar mais vida. Não podemos esquecer que a monocultura a exemplo da cana de açúcar no nordeste do Brasil é autofágica, vai devorando tudo em torno de si, engolindo terras e mais terras, consumindo o humo do solo, aniquilando as pequenas culturas indefesas e o próprio capital humano, do qual sua cultura tira toda a vida. Nas palavras de Josué de Castro no seu livro “Geografia da fome” ele coloca os males que esta paisagem única causou em regiões inteira. 

O revestimento vivo e intenso da zona da mata, nome dado a uma região do nordeste do Brasil, pela quantidade de mata que existia, foi completamente substituído por outra paisagem inteiramente diferente. As idéias e a mãos do colonizador conseguiu deteriorar a vida do solo, das águas, da vegetação e do clima. Tudo foi retirado para dar lugar a única paisagem, da cana de açúcar. Todo este processo mexeu não só na paisagem mais na vida das pessoas que nesta área habitam. 

Tudo que é diverso pode mais, alimenta mais, cabe mais, é mais estético, é mais rico e equilibra mais, enfim é mais sustentável para tudo e para todos. A natureza busca diversidade em todos os elementos, conseguindo até no mesmo elemento dotá-lo de várias diversidades inclusive de cores e formas. 


Da mesma forma que encontramos na natureza animais e insetos diversos e coloridos também nas plantas, este mesmo poder e dom da natureza é expressa de forma muito contundente. É como se a natureza tivesse nos dizendo “Olha e vê que a diversidade, que a mistura deve estar presente em todos os seres e espaços. A mistura é um dos segredos para a sustentabilidade do ambiente cultivado ou não”. 


Mas, infelizmente estamos fadados se não houver mudanças, a viver olhando uma paisagem de pouca mobilidade dos componentes que a compõe. 

A homogeneização das dietas é provocada pela instauração dos processos produtivos baseados na escolha de um único cultivo. Estas transformações abarcam todas as famílias que habitam nesta área, consolidando uma racionalidade única de viver e de se organizar. Os males provocados por esta cultura é cada vez mais percebido, provocando a busca de formas para seu reparo e reestruturação. 

EVITANDO A PADRONIZAÇÃO DA PROPRIEDADE 

Para evitarmos a padronização é necessário investir em uma série de mudanças de atitudes produtivas nas propriedades, e a principal delas é a aplicação do ZONEAMENTO. 


Pois, cada zona tem características próprias e exige uma diversidade de elementos e de atividades diferenciadas. Como exemplo, a zona 01, que é o entorno da casa deve estar direcionado para ser uma das zonas de segurança alimentar, produzindo alimento diversificado para toda a família. Desde a hortaliça até os tubérculos, todos estes alimentos devem ser produzidos desde que faça parte da dieta cotidiana da família. Com esta providência muda-se a paisagem, quebrando a visão única e monolítica deste espaço, além de provocar a diversificação de algumas atividades, como por exemplo: na alimentação, na longevidade diferenciada dos cultivos, no uso diário da mão de obra familiar, sai de uma colheita safrista para uma colheita quase que permanente. 

É bom frisar que a organização e arrumação atual dos espaços internos de uma propriedade estão perdendo quase toda a lógica de integração entre os espaços e entre os elementos que o compõe. Percebe-se claramente que o isolamento e a desconexão são exigências de proteção divulgada na mídia cientifica. Onde um discurso técnico defende a seguinte lógica: se os elementos vivos da mesma espécie e de idade diferentes estão muito próximos aumenta a probabilidade de contagio por doenças que podem comprometer os resultados econômicos desta atividade. Em muitas propriedades pode até ter uma grande diversidade de elementos e espaços, porém estes foram desenhados, projetados e montados de uma forma onde a conexão não acontece. Com esta arrumação projetada o gasto de energia para manter estes espaços produtivos e em funcionamento é consideravelmente grande, aumentando também com isto os custos de produção de algumas atividades. 

Como frisado anteriormente percebe-se que estes elementos não estão conectados nem fisicamente, nem energeticamente e muito menos residualmente. São espaços distintos e de isolamento às vezes completo, alguns até localizados distantes um do outro, são subsistemas de um sistema que não é sistema de forma alguma. Pois o conceito de sistema a integração, a combinação e a conexão são as características primordiais. 

Anteriormente a escolha das áreas para o plantio vinha acompanhada de conhecimentos bastante interessantes. Era preciso, pois, que o trabalho braçal fosse precedido pela aplicação deste saber intelectual o que não significa que as etapas posteriores sejam meramente braçais. Pelo contrário, são todas informadas por um saber acumulado e em constante processo de atualização. 

A leitura do ambiente era a primeira tarefa de um bom agricultor. Sabia-se que uma terra era forte pelo tipo de vegetação original, mais alta e com troncos mais grossos, e pelas espécies vegetais nela presentes. Numa frase de um produtor “Tem lugar que é mais forte que outros, onde tem madeira boa, como Inajá, cajá, jatobá, a terra é boa.” Sabe-se também que ela é forte pelo tempo demandado para que, pelo “descanso”, se constitua uma capoeira grossa, ou se reconstitua mato. Para muitos sitiantes era motivo de orgulho poder deixar a terra descansar. O reflorestar naturalmente era necessário para que se pudesse reiniciar um novo ciclo na geração seguinte. Existia uma relação de uso da natureza como uma troca respeitosa. 

Anteriormente, o sitio era visto como um sistema de espaços articulados entre si. Ele era pensado pelos agricultores como um todo cujas partes se interligam. Esse sistema não era algo dado, mas um complexo construído ao longo da vivencia de uma família. 

Com a gradativa redução da área dos sítios, o mato e a capoeira tornam-se um recurso crescentemente escasso, dificultando não só a criação como também a organização e distribuição espacial da área. 

A Permacultura tenta resgatar toda esta lógica e conhecimentos anteriormente utilizados, porém agora com a contribuição de outras áreas do conhecimento. A um alargamento destes saberes e conhecimentos. A lógica do uso dos espaços é percebida pelo uso de energias gastas para manter aquele elemento produtivo gastando-se menos energia. Logo a localização dos subsistemas de uma propriedade é mediada pela utilidade de uso e de visitas que aquele espaço e elemento são visitados durante um dia, semana, mês, etc. 


O Zoneamento é a estratégia tecnológica de design utilizada pela Permacultura para facilitar, diminuir, diversificar, combinar, conectar e respeitar o meio ambiente. O aumento das conexões torna-se a principal base da organização e da arrumação dos espaços dentro da propriedade. 

Logo ZONEAR é saber utilizar os espaços de forma energeticamente correta, e ambientalmente equilibrada. 

O planejamento por zonas trata do posicionamento dos elementos ou componentes de acordo com quantidade ou a freqüência que usamos ou necessitamos visitá-los. Logo este zoneamento é decidido pela quantidade de vezes que eu vou ter que visitar este elemento durante o dia. 

ZONA 0 – É o espaço onde vivemos. E a Permacultura não trata apenas dos elementos vivos, ela também esta preocupada como vivemos, onde moramos, onde dormimos e também o que comemos? Não podemos esquecer que boa parte do tempo, passamos em casa e na maioria das vezes tomando decisões sobre o restante da propriedade. Na permacultura este espaço é conhecido também como CENTRO DE ATIVIDADES, pois muitas decisões como: O que fazer, onde fazer, em que momento fazer, o tamanho a diversidade, etc. são tomadas neste espaço. 


Quando formos desenhar nossas casas devemos considerar que as funções naturais que sustentam a vida num determinado lugar, não só devem preservar, mas melhorar sempre que possível. Normalmente esta projeção das casas não considera estas relações com o entorno que a sustenta. Uma casa precisa estar integrada e sustentada pela (agro) e ecologia local. A permacultura contribui para uma construção de um nicho ecológico concreto onde tudo deve estar ligado a tudo. 

A permacultura tenta projetar casas novas ou retro ajustar as que já existem criando design mais adequado para que ele consiga trazer bem estar para todos que nela residem sem causar tantos impactos ambientais. A preocupação em criar espaços confortáveis, seguros, ventilados, bem iluminada, reduzindo as necessidades da casa e diminuindo a produção de poluentes ou até criando estratégias de reuso para alguns produtos que vão ser descartados. A nossa casa não pode ser um espaço de produção de poluentes permanentes, mas na sua maioria hoje são. Produzem grande quantidade de lixo, de efluentes que não passam por nenhum tratamento antes de ser lançados no ambiente, e no caso do sitio este ambiente é a propriedade onde se planta os alimentos para a família e para outras famílias (mercado). 

A zona 0 deve ter espaços e elementos que possam atender a diversas funções simultaneamente. Este faz parte de um dos princípios: cada elemento deve exercer no mínimo duas funções no sistema. E que cada função importante deve ser atendida por mais de um elemento. Logo a multifuncionalidade dos elementos e dos espaços precisam ser pensadas com carinho e cautela. 

ZONA MENOS UM – É a zona interna, dentro de nós. É onde a verdadeira mudança efetivamente começa, e toma forma. É onde o intangível é aguçado, provocando a repensar o que fazemos, é a provocação interna para a ecologização de todos os espaços e atitudes. Sem esta a zona menos um, não há nada concreto, há apenas ação sem reflexão. Esta recém zona refere-se ao campo interior que precisa mudar para que as mudanças tangíveis possam acontecer. Esta zona é proposta de Karoline Fendel - http://zonamenosum.wordpress.com


ZONA 01 – É a área ao redor do centro de atividades, controlada e usada com intensidade. Hoje este espaço de segurança alimentar está ausente nas propriedades rurais. A atenção está direcionada para a produção, para o mercado. As propriedades perderam e estão perdendo cada vez mais a sua diversidade em produção de alimentos para dar espaço ao cultivo comercial (monocultivos). E cada vez mais as famílias perdem esta segurança alimentar, que para se nutrir têm que comprar quase todos os alimentos, inclusive os básicos, como os cereais, tubérculos, frutas e hortaliças entre outros. 

Encontramos ao redor da casa áreas sem nenhum cultivo. Áreas que dão trabalho para manter limpa. Além do desperdício de águas servidas que poderiam está sendo utilizadas para produzir algumas fruteiras ou outras plantas. 

Com a implantação da ZONA 01 diminui-se o risco de não ter o que comer. Pois caso aconteça da produção comercial sofrer qualquer problema produtivo ou fenomenológico, reduzindo ou até perdendo toda a produção ou lucratividade, a ZONA 01 estará presente garantindo a segurança alimentar da família. 

Muitas propostas ou projetos de ajudar os pequenos agricultores, sempre estão centrados e direcionados para propor intervenções na área de sustentabilidade da família (roçado ou plantios comerciais), colocando a mesma em riscos. Estamos apresentando uma nova forma de pensar e planejar. O planejar uma área que quase sempre não é nem tem muito uso produtivo, (o entorno da casa o terreiro como é conhecido). 


                                                   Casa com o terreiro sem aproveitamento 

Muito se fala em melhorar a geração de renda das famílias. E a base desta melhora é a venda de produtos. Estamos propondo que esta geração, inicie-se pela não compra e sim pela produção da base da alimentação familiar. Quando não gasto, sobra para outras atividades. A ZONA 01 é esta base, esta área, esta lógica. A intenção desta área é produzir para o consumo familiar. O não ter muito de um elemento, e ter somente o necessário sobra espaço para que a diversificação aumente, melhorando a alimentação da família. Quando se planta muito de um único elemento gastasse do outro:

Espaço 
Água 
Adubo 
Tempo 

Calcule a necessidade real de subsistência do cardápio alimentar da família. Anote sua diversidade alimentar de consumo e planeje a necessidade da área para o plantio destes produtos. 

A riqueza produtiva deve começar do entorno da casa para alcançar outras áreas ou zonas. A riqueza do solo, de água, de mão de obra, de diversidade, deve estar pensada e planejada de maneira que todos os elementos tenham todas as seguranças atendidas. 

A intenção da zona 01 é se tornar: 

   O quintal ou o terreiro produtivo; 
· O sacolão da família; 
· O supermercado e as gôndolas no entorno da casa; 
· Área de segurança alimentar. 

Na zona 01 o pensamento deve ser este: 

“TUDO SE PLANTA NADA SE VENDE TUDO SE CONSOME” 
“Roberto Mendes” 

ZONA 02 – Deve ser a continuação da zona 01 em produção de alimento para casa, é conhecida como o sacolão da família em frutas e em carne dos pequenos animais, é o pomar altamente diversificado. É conhecida também como FLORESTA DE ALIMENTOS. A permacultura nos conduz a construir uma grande floresta de alimentos sustentável. Onde as espécies que vão compor este espaço precisam viver em consórcios, uma espécie irá ajudar a outra de alguma forma: em proteção do excesso de luz, em nutrientes, em espaço, escorando alguma que necessite de apoio, etc. 

Os pequenos e médios animais podem compor este espaço aumentando a diversidade do mesmo, como também realizando tarefas que vão ajudar no aumento da produção da área. Onde localizar a floresta de alimento (Pomar)? 

A lógica a ser seguida é a mesma que foi utilizada para a ZONA 01. Ou seja, precisa considerar o gasto com energia para manter produtivo este espaço, levando em conta quantas vezes precisará visitar este espaço por dia para mantê-lo e para colher frutas. Outro fator que precisamos levar em conta é o consumo de água para manter o pomar. Lembre-se a necessidade de USO me orienta onde devo localizar esta ZONA. 

ZONA 03 – Este espaço é reservado para a produção comercial. É pensada para o plantio em larga escala de produção. É o roçado pensado para atender as demandas dos consumidores. Toda a produção é planejada para atender não mais as necessidades de alimento da família, mas a necessidade de recursos econômicos para suprir algumas demandas que não puderam ainda ser supridas pela produção interna da propriedade. As finanças da família são atendidas por esta Zona. 

Tem que existir um ajuste perfeito entre o que se sabe plantar, o que a terra pode oferecer e o que o mercado necessita. Se este ajuste não acontecer pode-se ter problemas na operacionalização e principalmente na hora da comercialização dos produtos. Não adianta produzir produtos perfeitos, bonitos se o mercado não quer comprar. 

A comercialização dos produtos deve ocorrer o mais próximo da propriedade possível. Com isto diminuem-se os gastos com translado dos produtos em grandes distancias com combustíveis e outras despesas. 
Imagem ao lado ponto comercial da propriedade rural nas margens da estrada. A comercialização nesta lógica ajuda na diminuição das despesas de manutenção e de pessoal para realizar as vendas. 

O design desta zona não segue o formato do plantio utilizado na Zona 01 e 02 da intensividade e da desarrumação arrumada, isto é da mistura de plantas em todos os espaços. Esta Zona exige outra lógica. Pois as colheitas são maiores e vão exigir mais facilidade para a colheita e para o controle de planejamento de plantio. Nesta Zona podemos plantar em linhas ou franjas de cultivos ou aléias, isto é plantio de cultivos em uma espécie de avenida de cultivos diversificados. Sempre seguindo a arrumação em linhas ordenadas de culturas. Podem-se ter várias linhas seguidas da mesma cultura. Observe imagem ao lado e perceba que a lógica do plantio segue a idéia de plantio em avenidas ou aléias. E na mesma avenida notam as linhas de cultivos diversificadas, porém existem várias linhas seguidas da mesma cultura. Facilitando no manejo da mesma, como também facilitando a colheita e os controles necessários para manter o planejamento e a área produtiva. 

ZONA 04 – É o espaço da produção do futuro. É a poupança e aposentadoria da família plantada com este objetivo. Muitas propriedades só têm um planejamento de curto prazo. Parece até que estamos sempre pensando unicamente no presente muito próximo. A proposta deste espaço é montar uma floresta estrutural, onde todos os elementos que vão fazer parte possam ser pensados com projeção futura. As árvores são sinais de esperança numa propriedade rural. 

Pensar em longo prazo de forma sustentável ou permanente é a uma das grandes intenções da permacultura. Precisamos ter uma área na propriedade que fique adulta acompanhando também o amadurecimento dos seus proprietários, pois nem todo tempo somos jovens e muito menos teremos o mesmo vigor físico de poder atender a todas as necessidades dos cultivos de curta duração. A incerteza faz parte do novo, do inovador. E a natureza a todo o momento busca se atualizar, criar um novo equilíbrio com os elementos que estão presentes no momento atual. Mas para ter o novo é preciso amadurecer o jovem para que ele chegue à maturidade e possa gerar filhos. Todo sistema vivo tende a ter momentos de amadurecimento faz parte dos ecossistemas naturais. Mas a maioria dos sistemas de produção utilizados por muitos produtores não permitem este momento. Sempre provocam o novo a partir do novo, da entrada do novo de fora, e muito pouco do novo filho do amadurecimento do nativo. A Zona 04 permite este tempo de amadurecimento dos elementos que vão compor este espaço. 

Muitas outras necessidades além dos alimentos são necessárias. Numa propriedade precisa também de: 

· Remédios 
· Essências 
· Veneno 
· Lenha
· Madeira 
· Postes 
· Moveis 
· Papel 
· Cestas 
· Barcos 
· Corantes 
· Tinturas 
· Óleos 
· Bebidas 
· Castanhas 
· Flores 
· Sementes 
· Cascas 
· Fibras 
· Raízes 

E muitos dessas necessidades podem ser atendidas por elementos implantados na Zona 04. Estes elementos no futuro vão poder compor a renda financeira da propriedade de forma mais duradoura desde que bem planejada a sua implantação. 

A estrutura de um sistema Permacultural deve ser dominado por árvores. Muito embora a permacultura possa dirigir-se naturalmente para um clímax, este não deve ser visto como o produto total ou propósito de seu desenvolvimento As grandes árvores podem ser instrumentos na modificação de microclimas. 

Este espaço também pode ser pensado para nos primeiros momentos da implantação ser um sistema agrossilvopastoril, onde pasto, árvores e animais possam compor este mesmo espaço. 

Na imagem ao lado percebe-se um sistema na Zona 04 onde arvores em crescimento, pasto e gado convivem harmonicamente. O que se deve estar atento é para identificar em que momento estes animais vão compor este espaço sem danificar o crescimento das arvores. Outro fator que também precisa ser dimensionado é a quantidade de animais por área que o sistema tolera, sem ser prejudicado ambientalmente e produtivamente. Os animais de pastagem só são trazidos para a floresta depois de 03 a 06 anos (dependendo das taxas de crescimento, das espécies e do clima). 

ZONA 05 – É a Zona que considero como sendo o sistema educacional da propriedade, é a área de aprendizagem permanente. Ela é a mestra que nos mostra como fazer, tira nossas dúvidas, exemplifica mostrando, acontecendo ao vivo e a cores. É considerada também como área de observação e contemplação. 

A partir dela consigo entender conexão, tipos de consórcios, altura máxima das arvores daquela região adaptada ao tipo de solo, a umidade presente e permanente. Ela dá o norte dos cultivos das outras Zonas. 

É o santuário da propriedade onde abriga e protege a fauna e a flora nativa daquela região. Preserva o material genético de muitas plantas e animais. Além de ser a maior sequestradora de carbono de toda a propriedade. 




O zoneamento nos permite planejar a propriedade de forma a não padronização paisagística dos espaços e dos elementos vivos. Ela nos encaminha a planejar a propriedade a se tornar um agroecossistema, onde todos os componentes estão interligados e combinados de forma que o todo é seja mais que a soma de suas partes. 

25 de abril de 2012

sexta-feira, abril 20

A história produtiva da propriedade contada através dos registros númericos


Antônio Roberto Mendes Pereira 

A escrita marcou a passagem da humanidade da pré história para a história. Sem ela, hoje não conheceríamos muitos detalhes da época vivenciada pelos antepassados. Como por exemplo: como viviam, onde viviam o que cultivavam como era sua organização econômica, social, política e até a sua relação com o meio ambiente. Todos estes dados passaram do momento vivido e se tornaram um legado para as futuras gerações através da escrita. 

A escrita permitiu uma forma de registrar suas idéias e de se comunicar. O código escrito permite que a vida que levamos seja conhecida pelas gerações que virão depois de nós. Diante deste exposto pergunto: a história da sua propriedade está sendo escrita, registrando os fatos os dados, os sucessos e os insucessos? Se não, é uma pena, pois muita história está se perdendo, que poderia no futuro ajudar seus netos, bisnetos a conhecerem realmente o que aconteceu para que este ambiente esteja dessa ou daquela forma. 

Este texto tem a intenção de mostrar a importância destes registros, principalmente nas pequenas propriedades. Quais as aprendizagens que se pode ter a partir da operacionalização do uso dos registros. 


OS NÚMEROS COMO UMA DAS PRIMEIRAS FERRAMENTAS DE REGISTROS 

Os números estão tão presentes em nossa vida que nem nos damos conta disso. Vamos pensar no nosso cotidiano, entre ontem e hoje, quantas vezes você se envolveu com eles? 

Investigar a origem dos números é investigar a origem da humanidade. Há 50 mil anos, as pessoas viviam em grupos pouco numerosos, alimentavam-se da caça e coleta de frutos e raízes, abrigavam-se em cavernas para proteger-se do tempo e dos inimigos. Eles não comerciavam e não usavam dinheiro, não plantavam, não criavam animais e nem construíam suas casas. Com o passar de muitos anos, esse modo de vida foi se alterando... O homem deixa de ser apenas caçador e coletor de alimento e passa a ser agricultor. Passa a capturar animais para tê-los como reserva de alimento, aprende a domesticá-lo e aproveitar-se do que ofereciam... Assim foram evoluindo!!! A agricultura e o pastoreio provocaram inúmeras mudanças na vida do homem. Passaram a se organizar e a viver em grupos, a reservar alimento para atender a população que crescia. Com o sentimento de propriedade (animais, terra e produtos dela extraídos) o homem desenvolveu o comércio rudimentar e o sistema de trocas. Nos primeiros tempos, para contar eram usados os dedos, pedras, os nós de uma corda, marcas num osso... 


Para controlar o rebanho e ter certeza de que nenhuma ovelha havia fugido ou sido devorada por algum animal selvagem, usavam pedras. Cada ovelha que saía para pastar correspondia a uma pedra. O pastor colocava todas as pedras em um saquinho. No fim do dia, à medida que as ovelhas entravam no cercado, ele ia retirando as pedras. Que susto levaria se após todas as ovelhas estarem no cercado, sobrasse alguma pedra! 

Daí decorre a palavra Cálculo, que em latim quer dizer “contas com pedras”. 



A modernização da agricultura, durante o século XX, trouxe consigo a idéia de eficiência produtiva, ou seja, necessidade de maximizar e otimizar o uso dos fatores de produção, a fim de obter maiores resultados produtivos. O uso dos recursos naturais sofreu grandes explorações para atender a esta rentabilidade. Porém com o passar dos anos os recursos chegaram ao seu limite, e toda a rentabilidade entra em decadência, exigindo do agricultor mais conhecimento. 

A forma explorativa do uso dos recursos naturais não devia ser a postura adequada de uma pessoa que se diz agricultor. Diante dessa postura precisa-se aprender uma nova forma de re-fertilizar os solos a fim de torná-los novamente produtivos. E para que se percebam os incrementos que se está conseguindo se faz necessário registrar uma série de informações que além de nos mostrar os resultados também podem nos ajudar a conhecer onde precisa efetuar maiores intervenções. 

AS APRENDIZAGENS QUE SE PODE TER COM OS REGISTROS 
ETAPAS METODOLÓGICAS 

1. CONHECER – Esta deve ser uma das primeiras intenções da postura do registrar, do arquivar, elas nos remetem a conhecer melhor o que estamos operacionalizando. E também evita o esquecimento e os achismos, é preciso diminuir a probabilidade de erros e enganos nas tomadas de decisões. É preciso conhecer para verificar se o que estamos aplicando e fazendo está trazendo resultados que compensem a sua aplicação de forma permanente. A curiosidade é a chave básica para o conhecer, logo, esta fase necessita que as pessoas tenham a postura de um pesquisador, curioso para fazer descobertas. 

2. ANALISAR – Depois de nos aproximar do objeto do conhecimento que se quer ter e conhecer, precisa-se alargar este conhecimento. E para que isto ocorra se faz necessário analisar, estudar os dados coletados, registrados, tentando entender, compreender o que estes registros estão querendo me dizer. Este entendimento é a chave para os próximos passos. Para que este analise aconteça é preciso utilizar a comparação entre os dados registrados, esta comparação nos remete a cada vez mais aprofundar e entender o objeto de conhecimento e seus resultados operativos. 

3. CONTROLAR – A partir do entendimento da análise, precisamos iniciar o processo da tomada de decisão. Esta decisão nos remeteu a escolher por continuar fazendo da mesma forma ou mudar alguns requisitos ou mudar totalmente. O controle agora vai ser a partir destas novas iniciativas. Os registros nos ajudam também a ter controle sobre nossas ações. Ela nos ajuda a medir, a quantificar, a mensurar toda atividade que se está operacionalizando. 

4. MELHORAR – Esta decisão e o controle das novas medidas nos levam a tentativa de melhorar e potencializar cada vez mais o que estamos fazendo. Sem estes registros seria quase que impossível ter certeza se entre a forma A, B ou até C qual delas está contribuindo no alcance dos melhores desempenhos e resultados. A perspectiva que se quer é a melhora do que vem se fazendo em toda a propriedade. 

VANTAGENS DO USO DOS REGISTROS 


Muitas vantagens podem ser atribuídas ao uso do registro como forma metódica de acompanhamento as atividades desenvolvidas internamente na propriedade. Vejamos algumas que chamam atenção: 

· Mostrar os gastos dos diferentes setores da propriedade; 
· Possibilita calcular os rendimentos das diversas culturas e criações, ou de outras atividades; 
· Permite a determinação do volume e aquisição de produtos; 
· Indica as melhores épocas para a venda e aquisição de produtos; 
· Permite o cálculo dos custos da produção; 
· Permite o cálculo das medidas dos resultados econômico das atividades desenvolvidas; 
· Facilita a comparação dos resultados entre a mesma atividade e atividades diferentes; 
· Cria o histórico da propriedade. 

Não é costume de nossos agricultores registrarem os resultados alcançados ano após ano. O resultado normalmente fica arquivado na memória passível de esquecimento e de difícil possibilidade de se fazer comparações. Faltam detalhes numéricos, e sem estes a tarefa de descobrir por qual vai se optar continuar fazendo ou mudando torna-se difícil. Hoje as necessidades aumentaram, exigindo mais conhecimento e controles, para se alcançar melhores resultados. A concorrência é grande e em muitos casos desleais, colocando em cheque a qualidade e a quantidade produzida. 

Sem os registros é quase que impossível lembrar-se das produções diárias. 

A lucratividade precisa ser medida, conhecida, verificada de forma quase que cotidiana. O aperfeiçoamento do que se faz é necessário. O registrar para aperfeiçoar não quer dizer aumentar o uso de insumos, ou aumentar o uso de tecnologias de produto, o que se está procurando é que através dos registros possamos cada vez mais entender a lógica da natureza para que a partir deste conhecimento possamos imitar a mesma tendo a lógica da sustentabilidade como o norte de tudo que estamos fazendo e implantando nas propriedades. 


O que eu fiz de diferente que me fez alcançar estes resultados? Sem os registros é difícil saber o que foi? Como foi? E quais quantidades usaram? 

A ADMINISTRAÇÃO RURAL 

É impossível ter controle administrativo da propriedade rural sem ter uma série de registros. A administração rural é passível de controles, anotações que possam criar bancos de dados que facilitem as interpretações dos dados que se tem, para as tomadas de decisões. A administração rural tornou-se uma alternativa para se identificar os principais gargalos dentro dos sistemas produtivos, levantando informações que possam gerar intervenções a fim de aumentar a sua eficiência. Como dito anteriormente, observa-se que ainda hoje boa parte dos produtores rurais adota decisões condicionadas apenas à sua experiência, à tradição, potencial do agroecossistema e região e à disponibilidade de recursos financeiros e mão de obra. Os produtores até que percebem a baixa rentabilidade, mas tem dificuldade em quantificar e identificar os pontos de estrangulamento do processo produtivo. Daí a necessidade da cultura do uso dos registros e controles. Todos estes dados são uma grande ferramenta de análise que pode ajudar as propriedades a diminuir seus riscos. 

O produtor rural precisa adotar práticas de gestão para a condução profissional do seu negócio. Isso significa, por exemplo, que não basta apenas conhecer a sua produtividade, mas também quais são os seus custos. Não são raros os casos de produtores cujas lavouras alcançam altos índices de produtividade, porém, acompanhados de custos de produção muito elevados que inviabilizam o resultado financeiro positivo do negócio. Por isso a estruturação e o aprimoramento dos processos de gestão no campo são tão importantes. Eles proporcionam ganhos de competitividade e sustentabilidade do negócio agrícola no longo prazo. O produtor rural profissionaliza-se e torna-se um empresário rural. 

REGISTRAR SEM COMPLICAR 

Um dos grandes desafios de assumir uma cultura que tem o hábito de registrar é justamente tornar esta prática em um ato simples e rotineiro e até prazeroso. Muitas das fichas que são utilizadas não levam em conta o nível educacional da família. Tornando este ato, em um momento de esforço, que para muitos é preferível não o fazer. Um dos segredos que torna este ato simples, esta na escolha do que será registrado e na forma do preenchimento destas fichas. Logo, é necessário ter em mente que a quantidade de informação gerada, o preenchimento e a interpretação deste controle devem levar em conta o grau de instrução e a facilidade para seu preenchimento. A facilidade para fazer as comparações com os resultados anteriores precisam ser de fácil análise, que estes resultados saltem aos olhos, que não precise de um esforço intelectual muito grande para o alcance das conclusões. 

Seria interessante envolver os filhos que estão estudando, pois o hábito diário de estudar possibilita com facilidade a inclusão desta cultura. Inicie este processo com poucos registros e com o tempo vá consolidando os primeiros resultados das interpretações e lentamente agregue novas curiosidades que você e a família querem descobrir. 

Os registros não devem ser unicamente econômicos, devem ter outros alcances: 

· Índices produtivos (kg por metro², toneladas por hectare) 
· Zootécnicos (prolificidade, linhagem, cruzamentos, etc.) 
· Climatológicos (temperatura, pluviosidade, umidade, etc.) 
· Hídrico (necessidade de água por animal, planta, humano, etc.) 
· Energético (M³ de lenha, GLP, óleo diesel, carvão, etc.) 
· Ambiental ( número de espécies nativas, numero de animais nativos, etc.) 

E se possível registrar através da fotografia. Os registros fotográficos documentam a paisagem e os detalhes da atividade que está sendo trabalhada e ou transformada. É um documento fantástico e de fácil interpretação para toda a família. 

Não perca tempo anote, registre, controle o que entra e o que sai. Estes dados vão lhe ajudar a melhorar a gestão da produtividade da sua propriedade. A história da sua propriedade estará sendo documentada para que as gerações futuras da sua família possa saber como aconteceu, quando, quanto e os resultados obtidos. 

20 de abril de 2012

sexta-feira, abril 13

Cercando a propriedade com menos impactos ambientais

Antônio Roberto Mendes Pereira 

Cercar uma propriedade é uma medida necessária, mas este procedimento contribui enormemente para o desmatamento, não importando o tamanho que se queira cercar. Pode ser uma grande propriedade, até uma pequena horta, ambas contribui para o desmatamento ambiental. Quanto maior o perímetro a ser cercado, mais árvores são derrubadas. Em uma propriedade que utiliza os princípios agroecológicos, é imperativo o repensar novas formas para realizar o cercamento desta área. 


Este texto traz esta preocupação, vai tentar mostrar outras formas de operacionalizar este procedimento tão necessário. A divisão interna das atividades produtivas em muitos casos necessita utilizar várias divisórias para criar limites. A criação de animais é uma das atividades que mais necessita utilizar este procedimento, logo este texto se faz preponderante e necessário. 

TIPOS E MODELOS E OS GASTOS DE MATÉRIA PRIMA NATURAL 

Muitas propriedades atualmente estão desprovidas de áreas de reservas naturais. Área nativa não existe mais, toda a propriedade já foi desmatada para a prática das atividades produtivas. Ou quando não, ainda tem um restinho de capoeira grossa ou de mata onde dá para encontrar madeira que se adéque para se fazer uma cerca. Mas, com certeza são raras as propriedades que se dão ao desfrute de ter esta área ainda como preocupação de cumprir os 20% exigidos por lei de área de preservação permanente. E é justamente neste restinho de reserva que normalmente se busca encontrar toda ou parte da madeira para construir as cercas da propriedade. Esta atitude concorre diretamente para acabar com o restante da reserva, pois a depender do tamanho da propriedade a retirada desta madeira pode ser total. 

A depender do que se quer cercar, vários tipos de cercas podem ser utilizados, desde os que gastam menos madeira até os que gastam em demasia. A segurança em muitos casos está relacionada ao tipo e a espessura da madeira utilizada, além do tipo de arame utilizado. Causando enormes prejuízos ambientais e aumentando consideravelmente os investimentos econômicos. 

As cercas estão divididas a depender da atividade que se vai praticar ou separar. Uma cerca para as galinhas, por exemplo, exige que ela seja compacta não permitindo muita distância entre uma vara e outra. Com isto o gasto de madeira é vertiginoso, podendo-se gastar entre 15 a 30 varas por metro linear de cerca construída, sem contar com o madeiramento mais grosso que vai dar fixação a toda cerca. 


Uma cerca para a criação de caprinos também exige uma grande quantidade de madeira ou de arame, dependendo da condição econômica da família e da região ambiental onde a propriedade esta localizada. Os caprinos são de difícil contenção relacionada ao impedimento de acesso a áreas que se quer restringir. Conseguem facilmente encontrar os locais da cerca mais frágeis e com um pouco de esforço conseguem passar, e passou uma, passa todo rebanho. 

Em muitas propriedades esta cerca é construída com até 9 fios de arame farpado mais as varas. Além de causar impactos ambientais em muitos casos também causa impactos econômicos no bolso. 

Os problemas com cerca têm gerado muitos problemas com vizinhos de propriedade, pois ninguém gosta de ver outros animais de outras propriedades se alimentando do que você está cultivando. Em muitas regiões do nordeste, principalmente no sertão quando é chegado o momento do inverno a área a ser cercada é o roçado, para impedir que os animais possam ter acesso. 

Os animais de mais fácil contenção quando comparado com os já mencionados são os bovinos, às vezes com 3 ou 4 fios de arames consegue-se manter estes animais nas áreas selecionadas para sua permanência. 


A quantidade de madeira e arame a ser utilizada na cerca, está também ligada diretamente ao temperamento animal, quanto mais dócil e tranquilo menos arames, menos madeira, menos quase tudo. Existem cercas para várias utilidades em uma propriedade. Vejamos algumas demandas: 

Cerca para: 

· Demarcar áreas; 
· Separar, colocar limites; 
· Proteger; 
· Impedir; 
· Direcionar; 
· Prender; 
· Tutorar. 

E em cada tipo destes, muda às vezes completamente a quantidade e o modelo da cerca que se pretende fazer. Os limites em alguns casos não precisam ter formas tangíveis de separação com cercas ou outras maneiras. Mas, também existem limites que precisam ser verdadeiramente marcados e divididos com separadores como exemplo, cercas, paredes, etc. 

CERCA PARA DEMARCAR ÁREA – Algumas áreas de zoneamento da propriedade precisam ser divididas para que se perceba até onde esta área deve ir para desempenhar aquela atividade, como exemplo, podemos frisar a Zona 01, esta área que é a responsável pela segurança alimentar da família deve ser protegida e limitada, evitando também a entrada de animais indesejáveis. Como exemplo de elementos desta zona que necessita ser demarcada e cercada está a horta e o galinheiro. O tipo e o modelo desta cerca estão na dependência do que está no outro lado do limite. Que pode ser menos exigentes na maneira e na quantidade de insumos que se vai precisar utilizar. 


CERCA PARA SEPARAR – Em algumas situações precisamos utilizar determinadas estratégias operativas para separar, por exemplo, algum animal ou animais do restante do rebanho, ou por motivo de doenças, ou até de estratégias reprodutivas ou de manejo. E uma ótima estratégia é a cerca, que pode ser feita de vários matérias dependendo da espécie animal que se quer separar. O controle reprodutivo destes animais é facilitado com a separação dos mesmos, pois podemos ter controle da data de cruzamento, com quem houve o cruzamento, entre outros manejos. 


CERCA PARA PROTEGER – Alguns animais necessitam de proteção por ser indefesos sofrendo ataques de predadores. Nesta situação não basta separar. A cerca deve ter outra dimensão a de proteger, este tipo de cerca exige formatos diferentes, e exige em algumas situações materiais diferentes. 

CERCA PARA IMPEDIMENTO – Evitar acesso a algumas áreas restritas pode surgir a qualquer momento, no manejo das propriedades. Este tipo de cerca é bastante utilizado nas áreas próximas ao acesso da casa. Os quintais, jardins das casas em muitos casos exigem este cercamento, para impedir acesso de pessoas estranhas, como também de animais. Impõe certa privacidade ao ambiente. 




CERCA GUIAS - Este tipo de cerca é muito utilizado em plantios que necessita de um tutoramento como é caso de maracujá, uva, chuchu entre outras culturas. Estas cercas facilitam o manejo cultural. 


CERCA PARA PRENDER, ISOLAR – Animais em quarentena ou até com doenças contagiosas que precisam ficar isolados. Outra forma também de utilizar este tipo de cercamento é para conter animais violentos, bravos. Este tipo de cerca precisa ser muito bem feito e ter segurança que transcende as demais, pois se pode colocar em risco a integridade física das pessoas. 


CERCA PARA DIRECIONAR – Este tipo de cerca tenta direcionar caminhos, passagens, trilhas onde se quer permitir a passagem de pessoas e animais. 


DANOS AMBIENTAIS CAUSADAS PELA CONSTRUÇÃO DE CERCAS 

É necessário fazer alguns cálculos para se perceber os impactos que a construção de uma cerca pode causar ao meio ambiente. Para cercar uma propriedade com uma área de 10 hectares, feita sem as devidas preocupações ecológicas podem causar ao meio ambiente danos exorbitantes. 


Se nesta cerca colocou-se uma estaca a cada 1 metro entre uma estaca e outra, e estas estacas forem na dimensão de litro, medida utilizada pelos agricultores nordestinos em relação a espessura da estaca, comparando a mesma ao diâmetro do fundo de uma garrafa de litro, chega-se a derrubar 2200 árvores em média, tendo como formato da área o seguinte desenho. 






                                         

                                          
Se todas estas árvores fossem plantadas com um espaçamento de 3m X 2m caberiam em média 1666 plantas por hectare. Logo, 2200 plantas ocupariam uma área total de 1,32 de hectare, sem contar com a demanda das divisões internas. 

Como se percebe a construção de uma cerca a depender do tamanho da área a ser cercada exige uma grande derrubada de árvores. É bom salientar que a derrubada é feita de modo seletivo, sempre buscando as maiores, as mais grossas e as mais linheiras ou retas. E muitas vezes desperdiçando o restante da madeira retorcida que não atende a necessidade seletiva. Este desperdício termina por virar lenha para fornos os mais variados. 


DESPERDÍCIOS NA ESTÉTICA 


AS CERCAS ECOLOGICAMENTE CORRETAS 

Na maioria das propriedades brasileiras, as cercas são de arame farpado, arame liso e, mais recentemente, eletrificadas. As cercas elétricas podem ser instaladas em vergalhões, postes tradicionais de madeira ou em moirões vivos. A cerca de arame liso ou farpado com balancins (acessório preso aos fios de arame da cerca, na posição vertical, o qual permite firmá-los, mantendo uma maior distância entre moirões), como forma de economizar madeira, é cada vez mais utilizada pelos pecuaristas, por apresentar menor custo. Outro modelo utilizado é com moirões pré-moldados de concreto, porém, ainda é pouco acessível diante de seu custo elevado (AGUIRRE & GHELFI FILHO, 1991). Mas diante dessas alternativas frisadas anteriormente a Permacultura busca encontrar outras formas menos custosas e de menor impactos ambientais para a instalação de cercas. Pretende-se oferecer formas que além do serviço de cercamento, contribua com todo agroecossistema ofertando outros serviços ambientais, produtivos e até estético e climatológico. 

Cerca elétrica solar 


Um dos princípios que norteiam a Permacultura é que cada elemento tem que cumprir ou executar mais de uma função no ecossistema. Esta lógica deve ser trazida para os agroecossistemas cultivados. Logo, as cercas devem exercer mais de uma função, no caso deste texto queremos mostrar que quando ecologicamente correta a implantação desta cerca, mais funções ela consegue atender. 

Várias são as formas de se fazer cercas que causem menos destruição na natureza. O planejamento é a chave para a implantação. A melhor estratégia a ser utilizada é a implantação de cercas vivas. Elas trazem muitas vantagens em relação as convencionais, além de serem incomparavelmente mais econômicas. Vejamos algumas vantagens das cercas vivas ecológicas: 

· Estão sempre se encorpando, isto é a cada ano que passa o seu poder de cercamento aumenta, pois seu volume vai aumentando, vai ficando mais densa, impedindo cada vez mais a passagens de pessoas ou animais, o sistema radicular vai crescendo aumentando o poder de fixação. Enquanto a de estacas mortas a cada ano aumenta seu desgaste. O apodrecimento está em andamento, logo a cada ano que passa seu poder de cercamento vai diminuindo, vai perdendo sua resistência a manipulação; 

· Exige menos manutenção, quando comparada com as cercas mortas. 
· Custos de implantação mais baixos; 
· Maior durabilidade e segurança; 
· Benefícios ecológicos (captura de carbono, sombras, recomposição da mata ciliar, ajuda na recuperação de áreas degradas); 
· Geração de produtos econômicos a depender da espécie utilizada; 
· Podem servir de quebra vento; 
· Efeito estético e paisagístico; 
· Uso como forragem; 
· Fixação biológica de nitrogênio; 
· Os contornos são muito mais expressivos; 
· Contribui para o aumento da diversificação na propriedade. 

Portanto, recomenda-se a realização de estudos e experiências que potencializem o uso de cercas vivas ecológicas, através de espécies que minimizem os custos, ofereçam subprodutos e contribuam com o equilíbrio ambiental. 

Para isso, torna-se necessário um maior conhecimento das espécies que podem ser utilizadas, principalmente para as diferentes regiões do Brasil, com o objetivo de difundir o conhecimento sobre as técnicas mais eficientes de enraizamento, manejo e condução de bancos de estacas com capacidade de produzir um maior número de estacas em menor tempo, bem como, garantir uma maximização no aproveitamento de seus subprodutos e melhoria das condições do solo. 

USO DE MOURÕES VIVOS 

Dentre as espécies de leguminosas arbóreas utilizadas na construção de cercas ecológicas, a Gliricidia sepium é a mais adotada no mundo. Para se lograr um melhor rendimento e agilidade no processo de utilização da gliricídia como moirão vivo demanda-se uma série de operações e cuidados. 







Esta tecnologia do uso de mourões vivos já vem sendo divulgada pela EMBRAPA, apresentando ótimos resultados. Acesse o seguinte endereço: http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Moirao/MoiraoVivoCercaEcologica/construcao.htm. Irá encontrar todo manejo para a implantação desta tecnologia. 

Nas regiões onde a pedra existe em abundância, estas podem ser utilizadas na construção de cercas, diminuindo os custos. Este tipo de cerca é mais recomendável para pequenas áreas devido ao trabalho de implantação. 


Outra grande alternativa é o uso de Cercas Vivas que são formadas por certas espécies de plantas, em geral, com bastantes espinhos (porque melhores são os seus resultados), alinhadas lado-a-lado, bem juntas ou com espaço entre elas, de acordo com o seu objetivo: embelezamento de parques e jardins ou para servir de divisão, proteção, impedimento, dependendo da atividade ou dos animais que se pretende conter. 

Várias são as espécies que servem para esta utilidade. Cada região tem plantas que se adéquam a esta atividade, bastando apenas perguntar aos agricultores da região. Com certeza eles terão uma lista de plantas da região que tenha esta característica de dificultar sua transposição pelos animais e pelas pessoas. É bom sempre na escolha destas plantas dá preferência as de crescimento rápido, e que não necessite de irrigação a não ser da água do período do inverno. Outra característica necessária da escolha é dá preferência por plantas que não sejam muito invasoras. 










Cerca de bambu também é uma ótima alternativa desde que estes recebam um tratamento para aumentar sua durabilidade. Este tratamento pode-se encontrar facilmente disponibilizado em sites na internet. Os bambus por serem de alta regeneração e ter todos os seus galhos linheiros (retos) facilitam muito a sua utilização em cercamento de áreas as mais distintas. 


SUGESTÕES DE CERCAS DE RECICLAVÉIS 

Muitos são os desperdícios que podem servir de insumo para a construção de cercas, porém de pequenas dimensões. 



Como vemos existem uma infinidade de alternativas ecológicas que podem ser utilizadas para o cercamento de pequenas áreas como também de grandes áreas. Precisamos evitar utilizar formas de cerca onde a morte seja a ação principal, precisamos fazer cerca aumentando vida e a qualidade de vida. Pense e repense, inicie por pequenas áreas e compare os resultados. 



12 de abril de 2012

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