sexta-feira, março 9

O roçado de verão - Ocupação e produção permanente

Antônio Roberto Mendes Pereira 

No nordeste do Brasil por ser uma região localizada perto da linha do equador tem um clima muito quente e seco, diminuindo as possibilidades de se praticar uma agricultura nas características tradicionais utilizada pela maioria dos agricultores nordestinos. 

O período onde a maioria dos agricultores faz seus cultivos de sobrevivência é no período das águas ou das chuvas, como normalmente é chamada a estação do inverno. Os cultivos neste período vêm acompanhados de muita religiosidade, superstições, crendices e experimentos com observações da natureza. 


O dia de São José é importantíssimo para a meteorologia popular nordestina. É dia de observar a natureza para obter sinais de bom inverno, é o inicio da grande aventura da vida no nordeste, em especial no sertão. Dia de confirmar as experiências dos nossos profetas que afirmam: “Quem planta no dia de São José, come no dia de São João”. 

Para o homem do campo, chover no dia deste santo é sinal de boa colheita. Ele sabe que plantando em março deverá colher em junho, mês dedicado a outros santos: Santo Antônio, São João e São Pedro. Todos, de alguma forma, ligados à fertilidade e a colheita. O primeiro é o santo casamenteiro, o segundo, da colheita de junho, e o terceiro, das águas. Mas, tudo começa com o plantio. O dia de São José, 19 de março, precede de 48 horas o equinócio, não sendo rara nele a mudança de tempo. 


Pela minha vivência com a agricultura familiar, deduzo que 80% a 90% praticam agricultura de sequeiro, isto é só planta na época do inverno, passando o verão em outras atividades às vezes produtivas, às vezes não. Neste período o cuidar dos animais exige trabalho intenso na busca e na montagem de arraçoamento dos animais que permitam que os mesmos possam sobreviver e até produzir. Mas, a lida cotidiana de lidar com o roçado diminuem radicalmente, a não ser que estes produtores tenham reservas de água para uma prática de agricultura irrigada, o que são poucos quando relacionados com os que não têm este recurso disponível neste período (verão). 

Como fazer para que neste período tão difícil, os agricultores possam desenvolver uma atividade produtiva condizente com esta estação do ano, respeitando o ciclo da natureza e das suas nuances? Este é a intenção deste texto, sugerir a criação ou implantação de roçado de verão, onde os agricultores pudessem colher produtos que podem ser beneficiados e comercializados, gerando uma renda extra para se manter durante este momento. 

Utilizar as potencialidades do semiarido de forma sustentável e economicamente viável exige um entendimento, compreensão e respeito aos ciclos que a natureza determina em relação a época em que as atividades agrícolas podem ser executadas. Para que estas potencialidades possam ser aproveitadas é necessário aprender com a biodiversidade da natureza nesta região e perceber a semiaridez como uma potencialidade, uma vantagem e não como desvantagem (Andrade et al.,2006). 

Como frisado anteriormente, parto do pressuposto que para intervir primeiro necessito entender, conhecer, para não cometer erros arbitrários com a natureza. Logo, precisamos primeiro observar como é o comportamento da natureza, tentando identificar, quem hiberna, quem não, o que fica verde, o que seca, as características das plantas daquele ecossistema, entre outras observações que se fizer necessário. 

Uma das principais características que pode contribuir sensivelmente na escolha das plantas para compor o roçado proposto, é saber quais as que podem ser cultivadas durante o verão e que permaneçam ou esteja em seu pleno momento produtivo. Não pode esquecer que esta escolha deve levar em conta a região onde se está, no nosso caso o sertão. Uma boa estratégia para conseguir esta informação é realizar uma pesquisa com os agricultores da região, que morem na proximidade onde vai ser implantado o roçado, pois as indicações serão mais aproximadas. 

Outra boa características que pode nos ajudar é olhando a paisagem da região durante a estação seca (verão), enquanto todo o ambiente está seco, verifica-se várias espécies de plantas que permanecem verdes, e com uma exuberância fantástica, depois é verificar se ela tem valor comestível, comercial, de arraçoamento para os animais, produtora de sementes para reflorestamento, entre outras utilidades. Esta pode ser um dos representantes para compor o roçado, que deve ser diversificado. 




Observe que as imagens mostram nitidamente, que embora boa parte das plantas do entorno, estejam todas secas, algumas permanecem verdes, e em seu pleno momento de exuberância, esta é uma das características procuradas. 

Existem várias plantas que possuem esta característica e que podem fazer parte deste roçado. Imagine agora, muitas plantas com esta característica, compondo uma mesma paisagem, e acima de tudo que tivessem como dito anteriormente valores comestíveis para nós ou para os animais, ou utilidades comerciais ou artesanais? 

Uma das plantas que pode nos demonstrar todas as características durante o verão é o juazeiro. Esta planta pode servir de referência para entender o que esta se expondo como proposta. O juazeiro exibe toda sua exuberância de verde, de frutos e de sobrevivência com pouca presença de umidade. Esta planta tem um valor comercial na composição de cremes dentais na indústria, além de ser uma ótima fonte de ração para os animais no período de escassez de outras fontes alimentícias. 

Tendo como referência o juazeiro que outras plantas possuem características idênticas ou pelo menos aproximadas na sua região? Pense, pergunte, enumere, classifique, selecione e inicie o processo de construir os consórcios entre as escolhas que foram realizadas. 

É interessante lembrar que estas plantas sejam permanentes, ou de ciclo longo, assim diminui os gastos com implantação todos os anos. Além do mais quando iniciarem a produção terá todos os anos de forma quase que permanente produto os mais variados. 

Esta área deve ser implantada durante a estação das chuvas, pois para que ocorra a germinação é necessária a presença de água. A cobertura morta deve ser uma prática permanente, o solo deve estar permanentemente protegido, dos raios solares, diminuindo a evaporação e deixando a temperatura do solo mais fria e constante. 


A imagem acima mostra uma área ideal para a implantação do roçado de verão, próximo a uma fonte de água. A intenção de estar próximo da água não é para usar irrigação, mas para que as plantas possam aproveitar a umidade subterrânea que estar presente no entorno da fonte de água, além de ser um ambiente onde as temperaturas têm boa probabilidade de ser mais baixas. Com este procedimento estaremos propiciando um ambiente mais adequado e menos inóspito para a sobrevivência das plantas durante a estação seca. 


Guimarães Duque, já na década de 60, já recomendava substituir, pouco a pouco, as culturas de gênero alimentício pelas lavouras xerófilas, como forma de proporcionar a população que reside nestas áreas atingidas por estações de grandes estiagens, uma maior probabilidade e tranquilidade na produção de alimento. A tendência que estou propondo não é deixar de cultivar os cultivos alimentares de inverno, mas que também possamos ter cultivos durante a estação de seca, garantindo parte da sobrevivência da família tanto na forma de alimentos como também na produção de produtos manipulados para outros fins. 

O cultivo de espécies xerófilas nativas do semiarido de forma regular é uma prática agrícola que pode reduzir os riscos de perda da produção decorrentes das flutuações sazonais da precipitação. A escolha das plantas com alto nível de tolerância com as condições limitantes desse ecossistema seria prudente. Este tipo de lavoura pode garantir e disponibilizar alimentos, óleos essenciais, fitofármacos, cosméticos, fibras e forragem para os animais neste período da estação. 

Neste sentido estas lavouras podem apresentar as seguintes vantagens: 

· Apresentam resistência a seca; 
· São perenes; 
· Podem gerar produtos para exportação; 
· Permite o beneficiamento no local; 
· São produtos conhecidos pelos produtores; 
· Contribuem como arvores para a proteção do solo, aumentando a captura de carbono, aumentam também o reflorestamento das áreas. 

PLANTAS RECOMENDADAS PARA A ATIVIDADE 

A caatinga possui muitas espécies que se adéquam muito bem as características que se busca. Recomenda-se o incremento nestas áreas de plantio das seguintes espécies: 

· Algodão mocó (Gossypium hirsutum) 
· Carnaubeira (Copernicia Prunifera) 
· Oiticica (Licania Rígida) 
· Sisal (Agave sisalana) 
· Palma (Opuntia Cochenillifera) 
· Figueira da índia (Opontia amyclaea) 
· Calabacilla loca (Curcubita foetidissima) 
· Calendula (Euphorbia antisyhillica) 
· Mandacaru sem espinho (Cereu Jamacaru) 
· Cajueiro (Anacardium occidentale L.) 
· Goiabeira (Psidium guajava) 
· Maniçoba (Manihot spp. Eufhorbiaceae) 
· Licuzeiro (Syagrus coronata) 
· Algaroba (Prosopis juliflora) 
· Caroá (neoglaziovia variegata) 
· Jojoba (Simmondsia chinensis); 
· Leucena (Leucaena leucocephala) 
· Cártamo (Carthamus tinctorius) 
· Jureminha – (Desmanthus virgatus) 
· Algodão de seda (Calotropis procera) 
· Murici (Byrsonima crassifólia) 
· Pornunça (manihot sp) 
· E muitas cactáceas para venda como plantas ornamentais. 










Todas estas plantas enunciadas têm características que se adéquam ao roçado proposto, todas elas ajudam a criar um momento de produção que transcende normalmente a lógica utilizada pela maioria dos agricultores, que por não ter reservas de água suficiente para a prática de agricultura irrigada ou de salvação, passam por momentos de dificuldades para garantir sua sobrevivência e da atividade agropecuária praticada. Para conhecer a função de cada espécie de planta apresentada, deve-se acessar os sites de busca, ou acessar a: http://www.insa.gov.br/grupodepesquisa-lavouraxerofila/index.php?option=com_content&view=category&id=34&Itemid=56&lang=pt

A operacionalização do roçado de verão pode ser praticada em outros biomas, desde que se utilize como princípios os ensinamentos da natureza. A observação permanente e continuada dos elementos que compõe a paisagem e suas características deve ser o norte para a prática deste tipo de atividade. 





09 de março de 2012 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 

Duque, J. G. O Nordeste e as lavouras xerófilas. Fortaleza: BNB, 1964. 

Mendes, Benedito Vasconcelos, Alternativas Tecnológicas para a agropecuária do semiarido – São Paulo: Nobel ; (Rio de Janeiro), 1985.

Um comentário:

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