sexta-feira, novembro 18

Planejando a sustentabilidade da pequena propriedade rural

Antônio Roberto Mendes Pereira 

A necessidade pelo estado de sustentabilidade vem aumentando muito nas últimas décadas, com certeza todos os dias, vários produtores buscam se adequar a novas formas de produzir que sejam menos agressivas ao meio ambiente. E para o encontro com este estado uma condição é necessária, o cuidado com o meio ambiente. Sem este cuidar é impossível encontrar este caminho, esta rota que nos guia para a sustentabilidade. 


Embora que precisamos saber que a sustentabilidade nunca é alcançada, pois ela é um caminho, uma lógica, um conjunto de atitudes e comportamento onde se pode usufruir do presente sem privar as gerações futuras de ter as mesmas condições das gerações atuais. É preciso não confundir sustentabilidade com autosuficiência, o primeiro como dito anteriormente é um caminho, é atitude e a segunda está mais ligada a ter todas as necessidades atendidas sem ter que comprar, é a intenção pragmática de buscar produzir todas ou quase todas as necessidades atuais, embora que para se alcançar este equilíbrio produtivo nem sempre se precisa trilhar pela lógica da sustentabilidade, posso me tornar autosuficiente utilizando tecnologias e processos que vão de encontro aos cuidados com o meio ambiente. 

Para se tornar sustentável precisa-se modificar muitas atitudes e comportamentos culturais de produção e de consumo. 

Um dos primeiros passos a ser modificado profundamente é o do CONSUMO, que induz a produção, precisa-se buscar adequar o consumo da família para que ela esteja também direcionada para um consumo consciente e guiada pela lógica da sustentabilidade. Será que você hoje vive de acordo com suas necessidades reais ou com as necessidades criadas pelo mercado? O que fazer para descobrir verdadeiramente quais são as necessidades reais? Como fazer para diminuir o consumo de forma que se tenham as necessidades reais atendidas? 


Um indicador de consumo em uma propriedade rural é possível perceber pela quantidade de lixo que é produzido diariamente. Um consumo baseado na obsolescência artificial, em que os bens de consumo são criados para serem descartados o mais rápido possível, e irem para o lixo e assim gerar mais consumo vão de encontro à busca do estado de sustentabilidade. E esta forma de consumo vem sendo copiada pela maioria das pessoas, o que começou a pressionar imensamente os recursos ambientais. É bom lembrar que este tipo de consumo é insustentável. 

Quanto mais compramos, mais demonstramos o quanto estamos e somos insustentáveis. Em uma propriedade rural onde para se produzir necessita-se comprar sementes, adubos, venenos, entre outros insumos, percebe-se sua deficiência produtiva e de planejamento. Esta atitude nos mostra o quanto esta dependência está acima da capacidade da propriedade. Numa situação onde até para comer precisa-se comprar, imagine em que estado se encontra a propriedade. O principal meio de produção é a terra, e se ela não consegue mais atender a demanda de alimento para a família, significa que seu limite produtivo foi ultrapassado, mal manejado, forçou-se demais o meio e o bem de produção. 

A propriedade deve conseguir produzir necessidades básicas de alimentos para toda família. Programar uma dieta diversificada onde as condições do solo e clima possam atender, é imprescindível como primeira medida de busca de sustentabilidade. Buscar a autosuficiência de forma sustentável é um ótimo norte para o planejamento. 

Toda produção EXAGERADA empobrece o solo, logo forçar o solo para produzir mais do que sua capacidade de produção é ir de encontro à lógica que se deseja alcançar. Aliás, tudo em exagero vai de encontro a qualquer estágio de equilíbrio. Toda idéia de produção exagerada e de consumo desenfreado, inclusive as vendas, são causas para a degradação ambiental das propriedades rurais e de outros ambientes. E não podemos esquecer que a degradação ambiental está estritamente relacionada com pobreza. Enquanto a pobreza tem como resultado determinados tipos de pressão ambiental, as principais causas da deterioração ininterrupta do meio ambiente são os padrões insustentáveis de consumo e produção. 

Logo, especial atenção deve ser dedicada à demanda de uso dos recursos naturais gerada pelo consumo insustentável, bem como ao uso eficiente desses recursos, coerentemente com o objetivo de reduzir ao mínimo o esgotamento desses recursos e de reduzir a poluição nas propriedades rurais. 

Portanto, conceituando consumo sustentável podemos afirmar que “É um tipo de consumo que leva em conta os limites do meio ambiente, tanto para as atuais gerações quanto para as futuras, observando a equidade entre os que consomem mais e os que consomem menos, ou seja, reduzir de quem consome muito, de modo a garantir a quem consome pouco uma vida também equilibrada e permanente”. 

Imagine que para manter nossa subsistência, ou melhor, para manter nosso corpo funcionando como se fossemos uma máquina térmica, consumiríamos energia equivalente a uma lâmpada de 150 watts diariamente (energia para existir como ser humano). Isto apenas para manter o funcionamento interno, agora para manter nossas necessidades EXTRA-SOMÁTICAS, ou seja, em tudo aquilo que chamamos de metabolismo cultural (necessidades modernas, de mídia), isso nos leva a um consumo, da ordem de 8.000 watts, aproximadamente em países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, este consumo é equivalente a 25.000 watts. Diante desta lógica posso me perguntar: Se preciso de 150 watts para suprir minhas necessidades básicas, como e quando eu consumo o restante, tomando como referência os 8.000 watts? Verdadeiramente preciso de toda esta energia? Para tornar uma família mais sustentável precisa-se urgentemente mudar o estilo de vida. Em todas as áreas da propriedade, tem-se que repensar as atitudes de consumo e de produção. E vale lembrar que muitos dos bens de consumo que adquirimos para manter o consumo de 8.000 watts, em menos de 06 meses a maioria destes bens irão parar no lixo, por estar fora de moda ou por já ter se danificado, necessitando comprar outro de um novo modelo e da moda (obsolescência programada). 


AGORA TENTE RESPONDER! 

· Será que você é capaz de avaliar se é ou não um consumidor sustentável? 

· Você seria capaz de cortar o supérfluo, o desnecessário de sua vida para viver mais de acordo com a capacidade de suporte da sua propriedade? Por quanto tempo? 


OS 4 “Rs” PARA ENTRAR NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE 

Racionalizar, Reciclar, Reusar, Reduzir 

Estes são os Rs que nos remete a redirecionar nossas ações, não importando o ambiente que se viva. Faça da sua atitude diária uma atitude consciente e coerente em tempos de consumismo. Observe que o racionalizar está vindo antes dos demais Rs pois, a racionalidade humana deve fazer a diferença nas tomadas de decisões. 

O primeiro “R” da história foi o de reciclar, pois se achava que poderia manter o mesmo padrão de consumo apenas reciclando o que consumiam. E que apenas com essa atitude tudo estaria resolvido, mas viram que não é suficiente, é preciso mudar muitos outros comportamentos. Os nossos impactos no meio ambiente deveriam ser mudados. 


O segundo “R” de reusar ou reutilizar, foi uma conseqüência da constatação de que apenas reciclar não seria o bastante para reduzir os impactos e a pressão sobre o meio ambiente. Pensava-se que apenas reaproveitando algumas coisas poderíamos continuar consumindo da mesma forma, e perceberam que era um engano, pois o ambiente não suportaria tal consumo, nem para manter e muito menos para aumentar. 


O terceiro “R” já foi uma atitude para reduzir o consumo como uma maneira mais consciente e coerente de sobrar para as próximas gerações. 


E diante de todos estes 3 “Rs” que são insuficientes para restaurar a saúde do meio ambiente foi necessário matutar, refletir, repensar, meditar sobre as nossas atitudes diante deste meio ambiente, principalmente o ambiente que está mais próximo de nós, onde nós atuamos, vivemos e tiramos dele parte da nossa sobrevivência (propriedade). 

Agora percebemos que o primeiro “R” deve ser o racionalizar diante de qualquer decisão de consumir ou não. Ter cuidado para não agirmos por impulso, e comprar ou pagar produto ou serviços que não temos necessidade, mantendo atitude única de ostentação do ter, tornando-nos meros acumuladores de produtos de pouca ou nenhuma serventia verdadeiramente necessária.


Estes três erres são pouco para as mudanças necessárias, precisamos alcançar outros níveis de tomada de consciência. 

Primeiro: Recusar o consumo desnecessário (fútil); 
Segundo: Repensar quais as verdadeiras necessidades de consumo (evitar supérfluos); 
Terceiro: Reutilizar os produtos; 
Quarto: Reciclar; 
Quinto: Re-educar para a sustentabilidade, que parte de um princípio de uma Cultura de Economizar em todos os sentidos. 

O antídoto para reverter o eficaz processo de destruição do meio ambiente será a busca pelo CONSUMO DO SER! Para acordar e fazer valer esse tal consumo do ser, teremos que fazer valer os mesmos critérios existentes na evolução do ser humano. Ou seja, aquele que mais apresentar transformações rumo ao comportamento de um habitante verde, terá que ser premiado por Governo e Empresas através de redução de impostos e pontuação na compra de produtos, por exemplo. Por outro lado (o lado cinza), aquele que se mantiver como um simples terráqueo, terá que ser premiado com multas, taxações enfim, incentivos econômicos para provocar intensa reflexão interna e fazer entender a si próprio que sua mudança vale muito para si e para os outros. 


Com a experiência que tenho trabalhando em pequenas propriedades rurais, percebo que a simples operacionalização dos primeiros 3 Rs, ainda não se consegue grandes mudanças, é uma boa base para o inicio, mas falta ainda outros Rs para aumentar e consolidar as mudanças necessárias. A aplicação real no dia a dia, através de um planejamento buscando criar as devidas conexões entre os elementos que compõe ou que vão compor o sistema é um dos maiores segredos para a consolidação dos resultados. Criar uma relação escrita das necessidades de cada elemento tentando descobrir se o meu sistema é capaz de atender estas demandas, é de fundamental importância, pois uma necessidade quando não atendida compromete o resultado final do desempenho do todo deste elemento, principalmente por ele ser um elemento vivo. Para melhor compreensão observe este exemplo: muitas pessoas têm um hábito de após o almoço tirar um cochilo, às vezes de 10 minutinhos, é uma necessidade do seu corpo, quando esta necessidade não é atendida, em muitos casos compromete o restante do dia daquela pessoa, ela fica mal humorada, algumas tem dor de cabeça e não consegue render nas atividades do trabalho, da mesma forma acontece também com outros seres vivos, independentemente se este elemento vivo é um animal ou um vegetal. Busque sempre identificar as necessidades vitais destes elementos e tente ao máximo atender, que perceberá rapidamente os resultados positivos transformados em resultados produtivos. 

Outro detalhe que precisamos elencar são as funções que este elemento deve executar no agroecossistema. A cada função exercida menos necessidades externas preciso, o grande segredo para operacionalizar esta indicação é escolher uma posição para colocar este elemento onde ele consiga criar o máximo de conexões podendo desempenhar também o máximo de funções devido a sua ótima localização. Com estas duas atitudes planejadas aumentasse os resultados produtivos de qualquer espaço. Faça um teste! 

A incorporação e operacionalização de outros Rs precisam também acontecer, abaixo tem uma listagem com uma lógica temporal para a operacionalização. 

EVOLUÇÃO DOS Rs PARA UMA NOVA TOMADA DE CONSCIÊNCIA 

1º Momento (ontem)
2º Momento
(hoje)
3º Momento (amanhã)
4º Momento (desejado)
3 Rs
5 Rs
10 Rs

1 - Reduzir
1 - Reduzir
1 – Reduzir
Reinventar uma nova maneira de:
2 - Reutilizar
2 - Reutilizar
2 –  Reutilizar
Viver
3 - Reciclar
3 - Reaproveitar
3 –  Reaproveitar
Consumir

4 - Reciclar
4 –  Reciclar
Produzir

5 - Repensar
5 –  Repensar
Transformar


6 –  Recusar
Armazenar


7 –  Recuperar
Transportar


8 -  Reorganizar
Distribuir


9 -  Reorientar



10-  Reinventar


Muitos símbolos ou ícones são utilizados hoje no mundo inteiro querendo sempre nos alertar, relembrando para estas novas atitudes diante de qualquer espaço onde se vive, onde se trabalha, onde se estuda, onde se diverte. É uma necessidade imperiosa que cada vez mais, tenhamos adeptos seguidores que não fique apenas no conhecer e no entender, tem que passar do saber para operacionalizá-lo. 

Somos capazes de todos os dias fazer pequenas mudanças em nosso dia a dia que somados a de outros surtem resultados magníficos. Nós que estamos mexendo com a natureza em seu estado ainda mais natural precisamos imediatamente assumir atitudes urgentes para que os impactos possam ser minimizados e podermos ter os resultados aumentados com o mínimo de impacto ambiental. Espalhe estes ícones em sua propriedade como alertar para você e para toda a sua família. 




Adéque seu sistema de produção para uma produção mais limpa e orgânica. Assuma de uma vez praticar uma agricultura de base ecológica, e espalhe para o mercado consumidor a procedência do seu produto. Crie uma informação onde o consumidor conheça a RASTREABILIDADE dos seus produtos e a forma como eles são produzidos. Estes ícones precisam ser conhecidos, lidos e entendidos, divulgue-os! 



Lembre-se nada pode ter inicio sem ninguém começar, comece, assuma o ícone abaixo.


18 de novembro de 2011

2 comentários:

  1. muito interessante esta mais do que na hora de um despertar para esse problema grandioso...

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  2. muito boa essa leitura e para contribuir e ajudar outros,veja sisteminha embrapa,um filme de 43 minutos no youtube com dr.luiz guilherme,pesquisador da embrapa meio norte.

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