segunda-feira, janeiro 31

A importância das plantas fitoterápicas na saúde das pessoas e dos agroecossistemas cultivados

PLANTAS PODEROSAS DE SE TER



As plantas devem ser a base de todo principio alimentício e curativo para o solo, para os homens e para os animais. Toda vez que o homem se afasta da natureza ele adoece e o seu retorno é a certeza de sua cura.


Atualmente os seres humanos estão adoecendo com muita freqüência, e como conseqüência deste fato o número de farmácias nas cidades estão em constante aumento, como mostra pesquisa realizada pela Abifarma e pelo Conselho Regional de Farmácias de Pernambuco:

“Depois do Plano Real, com a estabilidade da moeda, muita gente que antes consumia menos medicamentos, passou a cuidar um pouco mais da saúde. Segundo a Abifarma, pelo menos 20 % da população da faixa “E” passou a consumir mais medicamentos.


Pernambuco não fica atrás: 3.300 farmácias distribuídas em todo o estado, onde existem apenas 2.900 padarias e 1.110 escolas de ensino médio públicas e privadas. No Recife, a relação é de uma drogaria para cada 2.617 pessoas. É o triplo do limite estabelecido pela OMS. A inclusão de novos consumidores de remédios com a ascensão das classes D-E estimula a abertura de novas unidades em todo o território brasileiro. Este ano o setor farmacêutico espera atingir o faturamento de R$ 31,5 bilhões com a venda de medicamentos, 12,5% superior a 2008 que foi de R$ 28 bilhões.

 “A relação satisfatória é de uma farmácia para cada 8 a 10 mil habitantes" - Elba Amorim - presidente do CRF-PE

Fonte – Conselho Regional de Farmácias de Pernambuco

 Este aumento nos remete a chegar à seguinte conclusão: o número de pessoas doentes está aumentando vertiginosamente. Várias são as causas que influenciam este fato. O stress, a vida agitada das cidades independentemente do seu tamanho, hábitos alimentares errados, poluição do ar, da água e do solo, e o uso cada vez maior de alimentos fast food, constituídos na sua maioria de alimentos produzidos em espaços antinaturais, com insumos químicos. Todos estes atributos frisados anteriormente ajudam e fazem parte hoje das vidas dos consumidores e dos sistemas de produção utilizados pela maioria dos agricultores. Estes problemas estão levando a população a cada vez mais procurarem as farmácias em busca de produtos que prometem a cura dos problemas de saúde, aumentando aritmeticamente a venda e o consumo de medicamentos. 

Outro grande desafio a ser enfrentado é em relação aos produtos consumidos em forma de alimentos que na sua maioria são manipulados e misturados perdendo parte de seus componentes e princípios ativos naturais. Tornando-se uma mistura com sabor artificial que dá enchimento, mas não alimenta. Hoje muitas pessoas ao se alimentar não reconhecem se a composição daquele alimento é de origem animal ou vegetal ou dos dois. A desconexão é total e cada vez mais distante, a artificialidade toma conta de todos os espaços. Cada vez mais os seres humanos inventam formas para excluir os ciclos da natureza dos seus espaços. A tecnologia tenta a cada dia manipular, o que se produz o que se come, o que se veste o que se assiste, porém de forma artificial.

As políticas governamentais em relação à saúde dão mais ênfase a construção de postos de saúdes e ao uso de medicamentos do que a implantação de programas onde a alimentação mais equilibrada seja o foco da política. A própria merenda escolar esta mais centrada no uso de produtos manipulados quimicamente, onde se compra uma mistura em pó, que se acrescenta água diluindo-se tudo e esta pronta para o consumo (fast food na merenda), e estes produtos são divulgados como misturas balanceadas e equilibradas. E a apresentação, divulgação e uso de produtos na sua forma natural é rejeitada em prol desta misturas milagrosas e econômicas e de fácil preparo.

Nas propriedades rurais o mesmo procedimento da artificialidade e da manipulação de espaços antinaturais é aplicado, os roçados diversificados cedem espaço para o cultivo de monoculturas, e toda dieta familiar fica dependente da venda deste produto para poder efetuar a compra dos demais alimentos que vão compor a dieta, que na sua maioria é desbalanceada e centrada em produtos que já sofreram beneficiamentos sendo agregados produtos químicos para aumentar a durabilidade, ou melhor, explicando o tempo de prateleira nos mercados e ou tempo de armazenagem nas dispensas ou nas geladeiras domésticas.

Como percebemos o afastamento de práticas mais naturais estão sendo cada vez mais esquecidas, estão sendo expulsas da cultura em prol de uma modernidade artificial e centrada em insumos químicos. E nas propriedades é criada uma nova cultura cíclica onde os conhecimentos aplicados geram: terra fraca, que gera produtos fracos, que vão alimentar pessoas que vão ficar fracas, que vão gerar filhos fracos que vão precisar de complementos sintéticos para equilibrar uma alimentação antinatural. Pessoas estas que iram adoecer e que vão precisar de medicamentos que são vendidos pelas farmácias, e assim completam um processo cíclico vicioso onde a dependência é inevitável. Chega-se a um ponto onde as pessoas acham normal e necessário e até aderindo a fazer parte de uma rede de planos de saúde onde o tratamento é pago por antecipação e premeditação, parece que já se sabe que em breve se vai adoecer.

Pergunta-se: No passado quando as pessoas não viviam nessa modernidade como se fazia para não adoecer? Pois, esta era a lógica anterior “O que fazer para não se adoecer?”.

A busca por uma alimentação e hábitos mais saudáveis fazia parte da vida das pessoas. O descanso, o lazer, uma dieta com produtos menos processados faziam parte da vida cotidiana. Até mesmo na pré- história a base da saúde era o trabalho e a coleta e a caça de produtos encontrados nas prateleiras da natureza na sua embalagem natural “a Casca, pele ou couro”. Por não existir toda esta parafernália de maquinas e equipamentos consumia-se a maioria dos alimentos na sua forma natural sem beneficiamento e sem a agregação de conservantes químicos. O espaço natural em que viviam os animais era dotado de plantas que tinham funções de cura, de tratamento. Os animais ao se sentirem molestados ou doentes ou com problemas alimentares recorriam a própria natureza para se tratarem. Estes conhecimentos foram sendo descobertos pelos seres humanos e fizeram parte da cultura de muitas gerações. Mas a modernidade e pós-modernidade estão provocando a troca desta cultura por novos produtos e hábitos que tem como a centralidade o uso de produtos manipulados, processados com muitos insumos que na sua maioria são químicos. As misturas provocaram nos seres humanos a perda de boa parte dos sabores dos alimentos. Muitas pessoas não conhecem mais os sabores originais de muitos alimentos. E para sentir algum sabor é necessário acrescentar condimentos, temperos mascarando os sabores do produto que se quer comer.

A procura pela saúde é uma constante em toda a população, porém esta saúde é procurada em lojas, farmácias, supermercados, shopping e não na natureza, não nas plantas. Os usos dos fármacos surgiram na idéia de imitar ou encontrar produtos similares aos encontrados na natureza. Os princípios químicos de muitas plantas servem de base para a composição de muitos medicamentos. Durante muito tempo a ciência desconsiderou a Fitoterapia no tratamento de doenças. Hoje surge uma nova ciência a Biomimética que tenta imitar, copiar muitos dos padrões naturais para resolver problemas atuais de saúde, mecânica, design. As inovações da natureza, que têm sido desenvolvidas e aperfeiçoadas continuamente por milhões de anos, fornecem um estoque inesgotável de idéias e soluções engenhosas. Além das contribuições às inovações tecnológicas, estas idéias têm contribuído também para a causa de proteção ambiental.

Muitos dos conceitos inovadores que os engenheiros e cientistas estão adotando da natureza correspondem ao princípio da sustentabilidade. A natureza sempre alcança seus objetivos com economia, com um mínimo de energia, conserva seus recursos e recicla completamente seus resíduos. Pesquisadores de diversas áreas estão estudando as soluções encontradas pela natureza e procurando adaptá-las na solução de seus problemas e na inovação de seus produtos.

Em todos os espaços naturais a natureza abre espaços para introduzir representantes que tem o poder de curar. Hoje já se calcula quando se entra em espaços naturais quantas plantas que tem efeitos fitoterápicos são encontradas por metro quadrado. Como será que estão nossas propriedades? Quantas plantas com estes poderes encontraram por metro quadrado? Se tiver poucas o que fazer para aumentar esta quantidade?

Em um agroecossistema cultivado ou natural não pode deixar de existir representantes que tenham poder de cura (fitoterápicas). A saúde é alcançada por uma alimentação natural e balanceada e diversificada. Quanto mais distante o homem fica da natureza, mais desequilibrado fica sua alimentação e como resultado deste afastamento o seu corpo e sua cabeça adoecem.

A saúde na vida de qualquer ser vivo tem uma importância fantástica, sua longevidade é aumentada, sua performance, seu desempenho são altamente influenciados por este equilíbrio alimentar. A elaboração de uma dieta é a base fundamental para se alcançar esta saúde.

A natureza tem poderes inesgotáveis existindo até plantas que possuem princípios ativos que podem resolver problemas de pragas e doenças que atacam as plantas cultivadas. Como se vê na natureza encontra-se respostas e elementos para resolver muitos dos desequilíbrios. O que se precisa fazer é contribuir para que esta diversidade possa estar presente nas propriedades.

O design da Zona 4 e 5 na Permacultura não pode deixar de ter plantas com estes objetivos, o poder de cura não precisa ser comprado e sim plantado, cultivado, preparado e consumido. A cura para muitos dos problemas de saúde devem ser resolvidos no primeiro momento evitando-se o seu surgimento através do consumo dos produtos cultivados na zona 1 e 2 (Zonas de segurança alimentar) e caso venhamos cometer algum erro na nossa dieta, deveremos recorrer aos vegetais plantados na Zona 4  ou nascidos espontaneamente nas Zona 5. A identificação destas plantas e de seus princípios ativos e curativos precisa ser registrada e fazer parte do acervo de conhecimentos oferecidos pela natureza. Este pé de pau ou aquele precisa ser reconhecido sua espécie e seu nome, para deixar de ser pé de pau, para que se possa divulgar algumas de suas funções. O repassar este conhecimento de pai para filho é cultura que não pode deixar de se ensinar. É motivo de segurança familiar dentro de uma propriedade rural.

Precisamos criar uma cultura onde a dieta natural seja verdadeiramente o evitar e o curar os problemas de saúde familiar. Comer os alimentos ao máximo na sua forma natural, sem beneficiamento a não ser uma lavagem ou uma retirada da casca.



Precisam-se estimular as famílias para cultivarem seus próprios alimentos, quer seja em vasos, em hortas ou até em quintais com mais espaço. Além da estética é uma ótima chance para um lazer produtivo, que transforma luz, minerais e água em alimentos biologicamente saudáveis, contribuindo para uma dieta muito mais equilibrada.

O nosso supermercado e a nossa farmácia para uma vida sadia e equilibrada deve estar neste espaço cultivado ou natural. E não podemos esquecer como diz Fukuoka “A doença começa quando o homem se distancia da natureza, e a severidade com a qual ele é afligido é proporcional à sua alienação.” É por esse motivo que se uma pessoa doente retorna a natureza, ela se cura. Os médicos estão ocupados salvando as pessoas doentes, mas nenhum deles esta conseguindo salvar as pessoas saudáveis. Somente a NATUREZA pode fazer isso. O maior papel de uma dieta natural é fazer com que as pessoas retornem ao seio da NATUREZA.

O verdadeiro sabor pode ser percebido somente com os cinco sentidos, a mente e o espírito. O sabor deve estar em consonância com o espírito. As pessoas que acham que o sabor emerge na própria comida usam somente a ponta da língua e facilmente se decepcionam com o sabor do alimento instantâneo e artificial.

A dieta e a agricultura natural podem ser praticadas somente por pessoas naturais, pense nisso. 


Diversidade de plantas da natureza,equilíbrio e sustentabilidade


Espaço cultivado na busca da diversidade e do equilíbrio sustentável


Alimentos produzidos harmonicamente com os princípios da natureza


Proteção através das plantas e dos seus princípios ativos naturais

Antônio Roberto Mendes Pereira

Técnico em Agropecuária, Permacultor, Pedagogo

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Fukuoka, Masanobu. Agricultura Natural: teoria e prática da filosofia verde; tradução de Hiroshi Seó e Ivana Wanderley Maia – São Paulo; Nobel, 1995

Mollison, Bill – Introdução a Permacultura – Tagari Publicações


quinta-feira, janeiro 27

Sistemas Produtivos de pequena escala

ZONA 01
JARDINS COMESTÍVEIS
 Permanência de produtividade intensiva

Antônio Roberto Mendes Pereira

O mundo atual nos remete permanentemente ao stress. Em todos os espaços o tempo para relaxar é esporádico e limitado. É só nos finais de semanas ou nas férias que alguns conseguem um tempo para relaxar, descansar, parar para ver as coisas, para apreciar a natureza. Muitas tecnologias são criadas para sobrar tempo, levando as pessoas ao fazer rápido, para comer rápido, para dormir rápido, para pensar rápido. O fast (rápido) tomou e vem tomando a cada dia o lugar do slow (lento). Em muitas famílias não se tem nem tempo para cuidar dos filhos, se entrega a tarefa do educar para outro que às vezes nem é da família, em prol do ter, do ganhar, e o educar para SER é negligenciado. O produzir é trocado pelo comprar, e cada vez mais estamos nos tornando e montando espaços antinaturais. Chega-se ao ponto que a beleza natural é trocada pela artificial, como exemplo: troca-se um vaso com uma planta natural viva por uma de plástico morta, estática. O saber cuidar como diz Leonardo Boff (1999) esta cada vez mais esquecido, se paga alguém para cuidar. E toda esta sensibilidade vai sendo perdida, sem o toque, sem o cheirar, sem o provar, as emoções duradouras são trocadas por momentos rápidos, instantâneos, (sentisse? Não, já passou).

Como vemos o caminho que vem sendo seguido esta na rota errada,  estamos nos afastando de tudo que é natural e normal, Fukuoka (1995). Como ter tempo novamente para apreciar, para ver com detalhe, olhar as entranhas. O que fazer para poder criar espaços para que todas estas sensações e emoções possam voltar a acontecer?

A prática da Permacultura (1991) tenta nos colocar novamente na rota certa. Voltar a ser natural em um mundo que caminha para o antinatural é a pretensão desta forma de ver, de fazer, de sentir, de observar enfim de viver de forma mais simples e natural. Precisamos rever nossos comportamentos, hábitos e retro a justar, ou melhor, nos ECOLOGIZAR[1]. E para isto precisamos nos eco alfabetizar e a Permacultura é a operacionalização destas aprendizagens. É o por em prática, é o agir ambientalmente correto. A permacultura nos remete ao olhar com os olhos de ver. Ver a vida como diz a série do Fantástico “Ver á vida como você nunca viu”. No texto anterior que escrevi falei da necessidade de retro ajustar a nossa casa, independentemente de onde moramos, se no campo ou na cidade. Neste novo texto vou tentar sair de dentro de casa e ir observar e sugerir o que fazer no entorno desta casa.

A Permacultura pode nos ajudar a repensar e a planejar este espaço com a mesma preocupação da Zona zero em reduzir as necessidades de energia e água. Estas diretrizes precisam estar presentes no entorno da casa, que na Permacultura é chamada de Zona 01.

O entorno desta casa no nordeste do Brasil em especifico nas áreas rurais do sertão e agreste de Pernambuco é conhecido como o terreiro. Este terreiro normalmente é espaço feminino, onde quem decide o que vai se criar e se plantar é a mulher a dona da casa. São raras as vezes que este espaço é ocupado por outros elementos que não sejam os destacados a baixo:

  • ·     A criação das galinhas é que normalmente predomina neste espaço. A galinha de capoeira criada solta no terreiro é a garantia do reaproveitamento, dos desperdícios e das sobras alimentares da família, além de defender, espantar e proteger o terreiro contra alguns animais (cobras) e insetos (formigas, escorpiões, baratas entre outros). Consome praticamente a água que escorre da pia, não criando grandes tarefas para gerir o criatório. São altamente resistentes. Os animais se criam e não são criados praticamente. Vivem perambulando por toda área. Recebem vez por outra alguns punhados de milho como complemento alimentar. Estes animais garantem o ovo e carne, além de gerar progenitores para dar continuidade à criação. E pode ser manejado pelas crianças. Para consumir sua carne os agricultores predem a galinha durante certo tempo, alegam que é para limpar a carne.

    • ·         As hortaliças ou as verduras como são chamadas por aqui também compõe este espaço em muitos terreiros, e por conta das galinhas criadas soltas são produzidas em palanque (espécie de caixote com pés cumpridos de madeira, com certo volume de terra onde são plantadas as verduras no alto, dificultando o acesso as galinhas. Esta técnica facilita o manejo, além de reduzir o gasto com água na irrigação além de ser fácil a sua manutenção. Ou de outra forma são plantadas em bacias ou até depósitos feitos com pneus de caminhão colocadas em um local alto que não dê acesso as galinhas ou a outros animais.


      Horta Palanque
      • A ornamentação do terreiro, muitas donas de casa tem este hábito de enfeitar o entorno da casa principalmente à frente com plantas ornamentais. Forma de demonstrar que é uma boa dona de casa e que sabe gerenciar muito bem o espaço e o tempo que tem.
      • O terreiro também é o laboratório para testar a novidade, de experimentar plantas novas, exóticas estranhas àquele ambiente. É plantado próximo da casa porque facilita a observação. É um espaço dedicado a pesquisa só que de nível mais simples.

      A imagem acima mostram a Zona 01 e sua diversidade, inclusive detalhe do pátio solar e algumas tecnologias. (Serta Ibimirim). 

      • A base intencional de todo o trabalho é a busca por 04 seguranças: a segurança alimentar, a hídrica, a energética e a de nutrientes. E o principal elemento para que possamos ter estas seguranças é o solo. A transformação de um material inerte, sem vida em um ser vivo e potencialmente produtivo é uma das metas a ser atingida e aprendida. Não podemos esquecer que para se produzir alimento de qualidade e em quantidade, precisa-se ter um solo equilibrado e sadio, com boa estrutura física, química e biológica. Observe como a natureza realiza esta proeza, ela sempre esta construindo solos. Ela transforma um solo pobre desprotegido em um solo que tudo tem e de forma equilibrado, nem muito nem pouco, na necessidade certa.
      • A ocupação deste espaço do entorno da casa (terreiro, quintal, muro) pode se iniciar da seguinte maneira: Inicie seu planejamento operativo em pequenos espaços e vá aumentando lentamente, levando em consideração a sua aprendizagem e domínio do que esta fazendo e ocupando. Este domínio passa pela observação e descoberta das necessidades dos elementos vivos que estão sendo introduzidos para serem criados naquele espaço e o seu pronto atendimento. A ocupação deste espaço pode ser iniciada por um vaso, um caixote ou até por um pequeno canteiro, o importante é começar com a busca intencional e planejada da segurança alimentar. Não aprenda sozinho, ensine para os demais membros da família, convide seus vizinhos para ver suas proezas produtivas tendo como parceiro a natureza. Mostre os resultados alcançados pela sua ação pro ativa com a natureza.
         Imagens do arquivo Serta Ibimirim 
       Otimização dos espaços
      • Aproveite ao Maximo os espaços, pense sempre em aperfeiçoar em otimizar estes espaços  ao invés de maximizar. Defina os caminhos, as trilhas deste espaço, planeje suas idas e vindas de forma eficiente e eficaz. Além de aproveitar e planejar o uso dos espaços horizontais veja e planeje também o uso dos espaços verticais, aproveite os espaços subindo, criando andares de uso, desde que o manejo não seja dificultoso. Utilize a matemática da necessidade da família. Calcule as necessidades da sua família e só plante o necessário de cada espécie, com esta atitude sobrará espaço para outras espécies aumentando a diversidade da dieta. Lembre-se o tamanho desta zona é mensurado pelo tamanho da família e sues hábitos alimentares. Plante o que gosta de comer, cheirar e ver. A lógica da Zona 0 é “na zona 01 tudo se planta, nada se vende tudo se consome”.
      •  Misture tudo ao máximo desde que permitido e tolerado por esta mistura. Isto é, crie comunidades de plantas, onde uma ajuda a outra. Identifique plantas que se suportam que se tolera que são companheiras, que se adéquam mutuamente. Que podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo com momentos de colheitas diferentes. A natureza não tolera espaços vazios, desocupados, descobertos, para ela é uma ferida que precisa ser cicatrizada e curada o mais rápido possível, antecipe-se antes dela, ajude-a a ela lhe ajudar, monte comunidades de plantas que em todo tempo o solo esteja protegido, resguardado das intempéries, da intensa luz solar direta, da gota de chuva direta no solo. Estes jardins intensivos comestíveis tornam o espaço e os seres que deles se alimentam mais sustentáveis.
      Imagens arquivo Serta Ibimirim
      Mistura de hortaliças em um mesmo espaço produtivo
      • As formas de vida renováveis neste espaço (Zona 01) devem ser perseguidas. A não renovabilidade dos espaços e dos elementos nos remete a insustentabilidade. Ter forma de estar sempre presente de geração em geração garante a perpetuidade e o aperfeiçoamento natural do elemento vivo. Este estar presente não é o estar sozinho, ser o único, mas presente na comunidade, no ecossistema cultivado que ora fora criado e estimulado. Faça uma lista dos elementos que podem ser renováveis de forma permanente na sua propriedade e em especifico no terreiro. 
      •  Imite os padrões da natureza, crie formas análogas dos padrões naturais. Utilize a biomimética[2] de forma permanente nestes espaços, repetindo as formas que a natureza utiliza para organizar os espaços, os elementos vivos e não vivos. O interessante não é estar junto mais conectado, interdependente, onde sei que este elemento precisa de mim e eu dele, e nós precisando dos outros e os outros precisando de todos e de cada um. É mais importante conhecer o como se melhora as relações entre um e outro e não conhecer individualmente cada um sem se conhecer com quem este pode se relacionar. Aprenda a aprender como conviver, como se combinar dentro de um pequeno espaço com o máximo de elementos permitido por este espaço, onde um ajuda o outro no desenvolvimento do todo. Os padrões da natureza quando percebidos, entendidos e imitados vão facilitar a sustentabilidade a beleza, a produtividade e o equilíbrio permanente do todo. As curvas, os caminhos sinuosos ou tortos oferecem diferentes visuais e paisagens que atraem olhares para a contemplação para a apreciação, provocando a multiplicação em outros espaços. Precisamos romper com linhas retas elas apressam, diminuem os espaços, e lembre-se nesta Zona preciso otimizar os espaços sem aumentar os espaços. Aromatize estes espaços com cheiros naturais de plantas, para atrair mais presença de vida, aumentando a diversidade do espaço. Espaços de caos e mistérios fazem parte dos padrões naturais, livre-se do simples, do mono, do único, estimule o complexo, o poli o diverso.
      •  Acrescente sempre o elemento água neste espaço. Como captar, armazenar e distribuir este elemento nesta Zona? Que esta captação e armazenamento possam acontecer de forma natural e artificial, isto é a natureza sabe como realizar este processo, mas nós podemos dar duas contribuições para aumentar este processo. Primeiramente estimulando e facilitando formas de manejo onde a natureza possa realizar suas tarefas de captação, armazenamento e distribuição de água e a segunda forma é instalando e consolidando estruturas físicas que possam também aumentar todo este processo.
      Imagens arquivo Serta Ibimirim
      • 01 elemento 03 funções, esta deve ser uma premissa básica para a inclusão e permanência dos elementos que vão compor esta Zona. Consegue-se operacionalizar esta premissa posicionando de forma relativa os elementos. Um elemento bem posicionado consegue desempenhar várias funções, além de se economizar energias e recursos econômicos e naturais. As estruturas físicas antes de serem instaladas precisam ser projetadas também levando em consideração estas premissas, como exemplo a projeção de um lago desde que bem localizado pode atender a várias funções:
      ·         Estimular formas de vida aquática;
      ·         Reserva de água para irrigação;
      ·         Reserva de água para incêndios naturais e provocados;
      ·         Criação de peixes;
      ·         Aumento da diversidade de plantas comestíveis aquáticas;
      ·         Diminuição da temperatura criando micro climas;

      PENSE NISSO... Largar do trabalho e ir não para casa, mas para o seu ecossistema “privado”, onde você foi um dos mentores, coadjuvante deste pequeno espaço. Onde você contribuiu verdadeiramente com a natureza para gerar e dar sustentabilidade e continuidade a vida naquele espaço inclusive o da sua família. Poder se alimentar do que planta, do que nasce, poder colher todo este manjar natural é um momento repleto de magia e encanto. Além de ser fantástico ele traz harmonia, consciência ecológica, operacionalidade ambiental. Para uns Hobby, para outros trabalho, para alguns responsabilidade pedagógica, na intenção de ensinar para que os outros possam  projetar a continuidade do processo, formando novas gerações que acreditam, que fazem que sentem, que se alimentam. A projeção e a montagem deste espaço pode contribuir em tudo isto.

      O ver crescer uma planta, acompanhar seu desenvolvimento sabendo como esta sendo produzida e depois se desfrutar do seu sabor, do seu aroma, de sua beleza não tem preço que pague por esta tarefa, só você fazendo e vivendo todo este processo é que vai sentir o que digo. Relaxa, descansa, ativa a vontade de viver, de fazer, de aumentar, de plantar e criar mais, criar mais vida, mais tudo. Se com uma planta se sente tudo isto imagine com uma horta e com um ecossistema diverso, montado por você, se o aumento for exponencial e geométrico vai se entrar em êxtase. Pela beleza não deveria se pagar e sim se contemplar. Crie seus espaços de contemplação e de beleza natural. Viva os ciclos da natureza, as safras, as luas, o período das chuvas, do sol, dos equinócios e solstícios, volte a ter parte a ser parte e a fazer parte da natureza.

      Miguel Grinberg, ambientalista argentino, editor e autor no campo da ecologia social, define a difusão de valores ecológicos como um processo de contágio que pressupõe contato, transmissão por proximidade. Tanto a alegria pode ser contagiante, como também as doenças. No caso da ecologização, trata-se de contagiar a vida pessoal, a familia, o município, a sociedade, o planeta, com o anticorpo da consciência ecológica, combatendo o vírus da poluição e da degradação do ambiente.

      Diz a mitologia grega que o rei Midas transformava em ouro tudo o que tocava. Na peça intitulada "O menino do dedo verde", o autor francês maurice Druon retrata um menino que tinha a capacidade de melhorar o ambiente, limpá-lo e depoluí-lo a partir de seu toque. Cada individuo, tendo vontade, disposição e lucidez, pode atuar como um menino do dedo verde, colaborando para o processo de ecologização da sociedade, a partir de sua ação local.Tal ação pode referir-se a temas ligados à realidade local, como a outros de ampla abrangência e alcance global. Não espere inicie sua tarefa de ser mais um menino do dedo verde e saia contagiando as pessoas e os espaços com o bom vírus da ecologização.

      Roberto Mendes
      Técnico, Pedagogo e Permacultor ativista
      25 de janeiro de 2011


      [1] Ecologizar – Palavra cunhada por Mauricio Andrés Ribeiro qu e significa adotar uma ação de introduzir a dimensão ecológica nos vários campos da vida e da sociedade.

      [2] Biomimética - é uma área da ciência que tem por objetivo o estudo das estruturas biológicas e das suas funções, procurando aprender com a Natureza. A biomimética é a imitação da vida.

      segunda-feira, janeiro 24

      Eco economia local

      ALGUMAS PRÁTICAS ALTERNATIVAS DE ECONOMIA PARA AS PEQUENAS PROPRIEDADES FAMILIARES

       A necessidade de se criar economias alternativas de enfrentamento ao modelo econômico que está imposto é imperiosa nas propriedades que estão em processo de transição para a Permacultura. O modelo que hoje é dominante impõe um alto consumo permanente. O comprar é a base deste modelo, e as estruturas e os incentivos econômicos fazem que, em geral, seja pouco rentável produzir em pequena escala para atender as necessidades da pequena propriedade ou até da comunidade, usando matérias primas locais, incentivando a importação de produtos de outras localidades.

      O hábito alimentar adquiridos via cultura estão cada vez mais sendo esquecidos em prol de cardápios mais globalizados. E eram justamente estes hábitos, essa cultura que determinava o que deveria se plantar, em função da própria cultura, da nutrição, dos costumes herdados dos ancestrais e da rigorosa observação das manchas de solo, das partes da propriedade onde era mais fértil, das baixadas, dos cultivos nas encostas etc. Cada parte dessa identificada se correlacionava diretamente com um tipo de cultivo e o cultivo se relacionava com a época do ano e o ano presente era o momento ideal para se pensar o ano vindouro. A perda desse conjunto de hábitos e costumes leva cada vez mais as famílias a gastarem mais, pois grande parte da sua alimentação não é produzida pela mesma e sim comprada para atender ao incentivo e o marketing da mídia moderna.

      Nesse sentido ao que parece, o conceito de economia restringe-se no nosso entendimento ao ato de simplesmente de comprar e vender caracterizando uma relação de monetarismo puro, descartada as possibilidades de auto sustentabilidade da propriedade no sentido do suprimento alimentar da família nela residente e sua independência a cerca de elementos externos. As características culturais e geográficas locais e determinantes são negligenciadas, fazendo com que estes alimentos viajem grandes distancias tornando-o cada vez mais caros e de difícil acesso. Este fato por demais não só tem afetado o estado econômico familiar, mas de toda a comunidade, de uma região e às vezes até de um município ou de um território. Como exemplo não raro de detecção, comunidades inteiras que antes no seu conjunto produziam dezenas de produtos para atender as suas necessidades e os excedentes para o abastecimento da vizinhança, suprimem-se de suas praticas já experimentadas, sedimentadas pela tradição e pelo conhecimento adquirido empiricamente ao longo das décadas e partem para o novo, para o desconhecido para a produção em escala, onde somente um produto é excedente e quando o cultivo não considera os aspectos da geografia local, promove o desequilíbrio ambiental, e o esfacelamento da MESA antes diversificada e ao alcance da mão familiar.

      Os novos hábitos são transmitidos para os filhos criando uma nova cultura em detrimento do esquecimento, do não saber mais, do não plantar, do não comer, do não saber como preparar, além da perda das sementes pela não renovação do plantio levando às mesmas a perda do poder germinativo. As famílias entram em um sistema onde para poder comer tem que comprar e não do ter que plantar. O plantar que antes era programado para primeiro se comer, agora é para vender para só depois poder comprar os demais itens do hábito alimentar imposto pelo sistema e divulgado pela mídia. As propriedades anteriormente eram verdadeiros supermercados, as suas gôndolas eram as áreas que produziam e tinham de tudo, a diversificação era intensa e permanente, o não comprar era tido como orgulho para as famílias. Como diz Ellen F. Woortmann (1997) em seu livro o Trabalho da terra “o Sítio é o lugar do trabalho por excelência. Mas ele é igualmente o resultado do trabalho, pois é um espaço construído; melhor dizendo, um conjunto de espaços articulados entre si, que lhe permite organizar-se como um sistema de insumos e produtos, onde tudo é pensado para não se ter que comprar nada”.
      O novo jeito na pessoa do filho degenera o aprendizado acumulado das praticas simples anteriores, muitas vezes rudimentares, mas tecnicamente eficientes, a exemplo o conhecimento acumulado no sentido do suprimento e garantia alimentar da família quando era de costume, no local onde era realizada a queimada a coivara, lá se plantava a melancia, onde se extinguia o formigueiro, lá se plantava jerimum (abóbora), em arvoredos mortos, mas ainda em pé no meio do roçado se plantava fava, no final do terreiro na Paraíba e no Rio Grande do Norte chamado de munturo se plantavam o gergelim e o milho para o consumo familiar ainda verde.

      Os princípios de sustentabilidade nestes exemplos não estão dissociados dos elementos técnicos que deveriam ter sidos estudados, já que os mesmos eram marcos de uma economia sutil, manejada no seio familiar, de propriedade exclusiva com características de um clã. Cultura esta que era vivenciada no conjunto de uma população local, carregada de desejos de bem estar, onde o sentido da produção era fazer total ou quase total soberania dos marcos divisórios da propriedade. O imperativo econômico não era as cédulas nem a quantidade de determinado produto, mas o conjunto dos produtos representando a quantidade em espécies, e o conjunto de espécies apontando as possibilidades de se fazer conexões como exemplo o coco mais o mamão mais a raspadura igual a cocada, cocada mais queijo, queijo que vem da coalhada, coalhada que vem do leite, que já foi desnatado que gerou manteiga etc.

      A diversidade de alimentos na propriedade era a base da segurança alimentar e econômica de muitas famílias. A ida a cidade nos dias de feira na sua maioria era para vender o excedente e complementar o que faltava comprando somente alguns itens. Mas hoje toda esta lógica é outra foi mudada, a diversidade foi trocada pela facilidade da monocultura e a venda deste único produto é a base econômica para a compra de todos os outros que compõe o cardápio alimentar da família.
      Diante de todo este processo a família só come determinados produtos se tiver dinheiro para comprar, se conseguir vender seu único produto poderá comprar os demais alimentos que compõe seu cardápio. Mas mesmo assim ainda esta dependente de outras variáveis para poder realizar a complementação da sua cesta básica alimentar, são elas:

      ·         Obtive lucro com a venda?
      ·         A margem de lucro obtida permite eu comprar o que?
      ·         O que vou fazer se não vender para comprar?
      ·         Só vou receber depois, como fazer para comprar hoje?
      ·         Será que para semana vou ter produto para vender?

      Como se pode perceber a perda da segurança alimentar e econômica é visível, a dependência aumentou e a família perdeu parte de sua autonomia de compra, de venda e de plantio, pois vai plantar o que se vende, correndo risco ainda do mercado não querer seu produto ou não pagar um preço justo pelo mesmo.
      O desgaste da terra é outra questão que precisa ser repensada, pois em uma propriedade que utiliza a diversificação de culturas e animais como base de seu sistema produtivo esta perda é bem menor quando comparada a uma que pratica a monocultura produtiva.

      Além de toda esta dependência econômica para comprar se agrega também outros requisitos que fazem parte de todo o pacote tecnológico. Para produzir esta monocultura é necessário que a mesma demande vários outros insumos como, por exemplo: adubos químicos, agrotóxicos, maquinário adequado e apropriado, além de outros insumos. E mais uma vez a necessidade imposta para comprar vem a tona, demandando todos estes insumos, numa situação sine qua non, que se não usar isto não se vai produzir aquilo. E o uso destes insumos normalmente leva os recursos naturais a um esgotamento, além da poluição dos mesmos. E mais uma vez a forma ancestral de produzir tentando utilizar todos os recursos internos como, por exemplo, esterco, a mistura de plantas entre outros estão sendo trocados por todos estes insumos modernos que empobrecem a terra e a família. E o sistema do ter dinheiro para poder comprar leva as famílias a endividamentos em lojas de produtos agropecuários, bancos e até em agiotas. Sem esquecer que todo este incremento no consumo tem provocado o consumo do capital natural da terra, em vez de consumir somente o interesse anual de auto-regeneração.

      Como fica a economia de uma família onde toda a base de sua sobrevivência depende do COMPRAR, do ter DINHEIRO, onde sem ele você não leva e se leva se endivida. Como mudar esta situação? Que estratégias podem-se criar para contornar esta situação? Que formas alternativas podem ser operacionalizadas?

      Até mudar estas estruturas e incentivos, nosso comportamento necessita estar solidamente informado por uma série de opções baseadas em valores:

      ·         Quanto é suficiente?
      ·         Qual a relação entre os níveis de consumo material e bem estar humano?
      ·         Nossa riqueza depende da pobreza do outro?
      ·         Depende nossa riqueza da degradação e poluição do meio ambiente?
      ·         Em que casos elegeriam consumir menos ou pagar mais do que o estritamente necessário?

      Não podemos esquecer que a economia de qualquer propriedade rural esta intrinsecamente ligada aos limites de seus recursos naturais. Eles é que dão a dimensão e a quantidade que se pode tirar da terra.  Precisa-se também estar alerta para não exceder estes limites, pois entre o limite e o excesso pode-se contribuir para a degradação e até a poluição deste espaço. Entender e estar em busca desses limites toleráveis é o segredo para se ter uma propriedade mais sustentável.

      Conhecendo-se os limites podemos com toda certeza procurar equilibrar o atendimento da demanda. Conhecer estes limites é um dado importantíssimo para o planejamento econômico, ambiental entre outros. Uma das formas divulgadas por nós para diminuir a demanda do trazer insumos e produtos de fora é repensar a dieta familiar, adequando a mesma, a capacidade de produção do ecossistema cultivado. Fazer complemento na dieta é uma coisa, mas comprar tudo ou quase tudo é outra lógica. E percebemos que muitas propriedades estão tomando este rumo. Produz um para poder o comprar o restante.

      O não comprar é uma forma de geração de renda, só que a partir de outra lógica. Muitos projetos e programas trazem na sua intenção de meta, a geração de renda para as pequenas propriedades oriundas da agricultura familiar. E toda a energia de planejamento fica centrada em pensar o que plantar para vender. Nossa proposta econômica é produzir para que não tenha que comprar, e ao nosso vê, esta é uma forma bastante interessante e produtiva de gerar renda não na venda e sim na não compra. O que se quer ressaltar é que, ao contrário da agricultura moderna “racional”, capitalizada e voltada exclusivamente para o mercado, os sitiantes adéquam as plantas (aquilo que irão depois comer) ao solo, e não, como na agricultura “moderna”, o solo às plantas, isto é, ao mercado. O saber e a pratica dos sitiantes não impunha ao solo as exigências do mercado. Estabeleciam, pelo contrario, uma negociação entre as necessidades da família e as potencialidades da terra. Havia como um dialogo entre o que a família precisa e o que a terra pode oferecer.

      O produzir para o mercado mexe até na forma de usar a terra, as áreas para se produzir para o mercado são maiores, exigem mais hectares sendo utilizados para compensar economicamente o uso dos insumos. E a área de mata e de capoeira grossa que eram deixadas para a reprodução familiar e para o descanso da terra na busca de uma nova fertilidade natural,  com este novo sistema deixa de existir. Não se pode esquecer que para os sitiantes é motivo de orgulho o fato de poder deixar a terra “descansar” É a garantia do reinicio de um novo ciclo na geração seguinte de sua família. E com a gradativa redução desta área dos sítios, o mato e a capoeira torna-se um recurso crescentemente escasso.

      Os espaços necessários para produzir para vender para depois comprar, e o plantar para comer sem ter que comprar é incomparavelmente diferente. O primeiro exige tudo mais inclusive mais inversão de capital, quer dizer tenho que ter dinheiro para investir para poder produzir, enquanto o segundo necessito de pouco espaço, os insumos necessários na sua maioria são locais e quase pouca ou nenhum investimento. Além de que toda a mão de obra produtiva pode ser a da família. Os jovens podem tranquilamente dar conta deste espaço. Este pode ser um espaço de aprendizagem, de experimentação, de provar competência. Além de não demandar grande quantidade de tempo para seu manejo diário, sem atrapalhar o processo escolar que demanda certo tempo para cumprir as tarefas de casa propostas pela escola.

      UMA NOVA FORMA DE PRATICAR ECONOMIA

      O que este tipo de economia necessita para comprovar sua eficiência são os registros do que se esta alcançando. Os números são os grandes parceiros comprobatórios do dar certo ou não. Vai exigir que a família possa ter controles sobre estas tarefas produtivas e consumistas. Um membro da família deverá ser escolhido para desempenhar este papel. Papel e uma planilha simples deverão ajudar nesta comprovação. Em muitos casos os resultados surpreendem muitas famílias, pois jamais imaginariam estes ganhos internos. A associação desta disciplina de registros mais a operacionalização da produção para o consumo direto da família aproveitando o entorno da casa e os recursos disponíveis subutilizados são com toda certeza a introdução de outra lógica na estrutura econômica familiar, que trazem resultados imediatos e duradouros. A produção a zero quilometro de distancia, isto é, perto de casa e mais ainda da cozinha é uma estratégia com enfoque sustentável que precisa se incorporada na cultura da agricultura familiar.

      Primeiro se produz para a segurança alimentar e só depois penso em plantar para vender. Primeiro preciso garantir, assegurar que a alimentação da minha família esta tranqüila. O plantar para vender tem outra lógica de produção, com que produzir? Para quem produzir? Por quanto produzir? Onde vender? Toda esta lógica tem gastos de inversão como frisado anteriormente. Em muitos casos tem famílias que se endividam para poder atender toda a demanda do preparo a colheita, correndo riscos. Não tendo certeza que no período da colheita vai haver cliente querendo comprar e pagando um preço justo por seu produto.

      O tipo de economia que o sistema divulga e que a maioria das propriedades se apropriou e transformaram em cultura quando comparado ao que se esta propondo nos remete as seguintes comparações:



      Modelo atual divulgado e legitimado pelo sistema capitalista
      Modelo proposto para a pequena propriedade
      Vicia
      Ensina, educa,liberta
      Estimula os hábitos consumistas
      Estimula hábitos produtivistas
      Altamente dependente do real $
      Depende da disponibilidade da mão de obra familiar
      Totalmente monetária
      Totalmente produto
      Quem determina é o mercado
      Quem deve determinar é a dieta familiar, os hábitos, costumes, cultura local.

      INOVAÇÕES NA FORMA DE PRODUZIR E VENDER
      Caminhos diferenciados a ser trilhados

      Para melhorar e garantir o vender é necessário alguns conhecimentos básicos, entre eles lembrar que negócio é uma forma de SERVIR sem olhar a quem. Este serviço deve ser bem prestado para que estas pessoas divulguem e retornem a comprar este produto novamente. É preciso ter jeito, talento para saber conquistar e fidelizar um cliente que normalmente é conhecido na linguagem de feira livre de freguês. E não podemos esquecer que tanto na feira como nos mais variados espaços de comercialização a oferta é grande e em muitos casos a demanda é pequena. É justamente nestes momentos que o conhecer, o saber a experiência irão fazer a diferença.

      Mas algumas perguntas são necessárias serem respondidas por nós mesmos se quiser-mos alcançar resultados satisfatório neste processo econômico. Ser diferente não é o caso, mas ter idéias inovadoras pode ser um grande diferencial nas estratégias de intervenção comercial. Perguntas como:

      ·         O que vai diferenciar meu produto dos demais?

      Verdadeiramente o que vai diferenciar minha alface dos demais? É a pergunta objetiva que precisamos nos fazer se quiser-mos ser inovadores. Mas, muitos dos produtores se preocupam unicamente no produzir. O vender é tratado como outra etapa, não se dando a devida atenção. Não podemos esquecer que mesmo sendo outra etapa, ela deve estar completamente conectada com as demais. Desde a colheita até a consumação da venda, muitas etapas acontecem, e que precisam ser levadas em conta quando se busca um mercado mais justo e solidário. A etapa da venda ao consumidor é passada para outras pessoas (atravessadores), entregando todo seu trabalho para que os outros que não correram tanto riscos possam ganhar em cima do seu suor.

      Outros questionamentos que se precisam ser levado em consideração é:

      ·      Devo vender meu produto pelo preço do mercado ou pelo preço justo?  Questionamento que precisa ser pensado articuladamente com os demais.
      ·         Devo vender meu produto perto ou longe da minha propriedade?
      ·         Onde posso obter mais lucratividade?

      Em muitos casos percebe-se que os agricultores preocupam-se em comercializar seus produtos nos grandes centros, colocando estes produtos para fazer grandes viagens, aumentando o custo de produção, e não se atenta que às vezes comercializando seus produtos na própria comunidade ou até nos pequenos mercados recebendo até remunerações mais baixas, sua lucratividade pode ser maior, pois gastos com viagens de grandes distancias podem diminuir grandemente seus lucros, além da perda de qualidade na aparência dos produtos, que influencia diretamente nos preços de venda.

      Como pudemos perceber muitas coisas podem ser feitas para as mudanças. Este texto não pretende esgotar todas as saídas para uma economia local diferente, mas com certeza leva os leitores a refletir a repensar o modelo vigente que estar proposto e sendo operacionalizado. Precisa-se perceber que são nas pequenas coisas e atitudes que as mudanças significativas podem acontecer. Pense simples, faça sempre e de forma que cause menos impacto possível ao meio ambiente, principalmente o mais local possível.

      Antônio Roberto Mendes Pereira
      Sebastião Alves
      05 de janeiro de 2011

      Bibliografia consultada

      Woortmann, Ellen. O trabalho da terra: a lógica e a simbólica da lavoura camponesa./Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1997.

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